Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Um Lugar-Comum Chamado Drummond

"Carlos Drummond de Andrade é um gênio. Sua obra é estupenda. Sua poesia, maravilhosa. Só de se ouvir alguns de seus versos, suspiros de amor são proferidos por belas e castas donzelas."
Eu não faço a menor idéia de quem disso isto.

No meio do meu caminho tinha Drummond e toda sua pieguice em forma de verso:

"O amor tem raízes fundas,feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito,e estas suplanta a natureza".
"Eu te amo porque te amo.Não precisas ser amante,e nem sempre sabê-lo.Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga".

"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida"
Além da pieguice, encontra-se também uma certa dose de esquisitice quando o poeta resolve falar de amor:
"Amor é bicho instruído. Olha: o amor pulou o muro. O amor subiu na árvore em tempo de se estrepar. Pronto, o amor se estrepou. Daqui estou vendo o sangue que escorre do corpo andrógino".
Não me incomoda ver alguém sofrer para demonstrar seu amor. Não me incomoda se apelam para filosofia seicho-no-ie, mensagens em balas de menta, poemas de papéis-de-carta ou pára-choques de caminhão. Quando se ama, a gente fica meio bobo mesmo. Agora, o que realmente me irrita, é o rótulo pré-fabricado pregado a alguns nomes. A máxima de que Carlos Drummond é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos é repetida como um mantra sagrado por décadas. Particularmente, penso que considerar Drummond um dos melhores autores brasileiros é uma ofensa a nossa Língua.

Carlos Drummond de Andrade irá continuar, por anos, a ser lembrado como um gênio. Eu vou continuar, por anos, a tentar descobrir quem foi que disse isto. A minha porta, Drummond não atravessa: de pieguies minha casa já está cheia.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Local onde cadáver de Che foi exibido à imprensa recebe flores, no Dia de Finados


Pelo epitáfio, entende-se a verdadeira função das flores.
Bom feriado a todos.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Bonde do IG: A Vergonha da Mídia Vermelha

Esquerdopatas contemporâneos têm em comum, além do hábito de comprar votos dos pobres, uma aversão a veículos de comunicação independentes. Principalmente os de grande audiência.
É difícil encontrar um petista que ama a Rede Globo, lê a Folha de S. Paulo ou seja assinante da revista Veja.
Eles não gostam muito de quem denuncia suas malandragens. Acusam a mídia de ser "imparcial, elitista, tendenciosa, derrotista e golpista".
Contudo, a esquerda tem um plano super democrático para resolver esse inconveniente: estatizar e monopolizar a imprensa!
Fidel, o verme, faz isso há 40 anos. Hugo Chávez fechou, ano passado, a Rede Caracas de Televisão(RCTV) por considerar que o canal fazia "propaganda contra o governo". Em seu lugar, lançou um canal estatal que passa vídeos doutrinadores de esquerda e matérias sobre o dia-a-dia do ditador.

Lula, assim como toda a esquerda, não gosta dessa história de liberdade de imprensa. Em 5 anos no governo, concedeu apenas uma entrevista coletiva livre. Deve ser por timidez.
Eu proponho um reality-show sobre o PT. O Big Companheiro Brasil.
Um arsenal de câmeras apontadas 24h para os petralhas. Seria divertido acompanhar, ao vivo, os bastidores da arrecadação de fundos para as campanhas petistas. Ou a divisão de cargos em órgãos públicos entre os companheiros.

A apresentação do reality poderia ser entregue a algum jornalista de rabo-preso com o governo. Talvez Mino Carta, manager da revista Carta Capital, que tem como principal fonte de arrecadação a publicidade de estatais em suas páginas.
Franklin Martins, que conseguiu um cargo no ministério das comunicações, ou Paulo Henrique Amorim, que recebe do Portal IG cerca de 80 mil reais para manter seu site, "Conversa Afiada", também interpretariam muito o bem o papel de apresentador do BCB.
O Portal IG é um bom exemplo de como funciona a traquinagem petista para "democratizar" a mídia. Em 2003, a Brasil-Telecom, empresa cujas ações majoritárias pertencem aos fundos de pensões do governo, comprou o IG por 115 milhões de reais. A partir daí, o terceiro maior portal digital do Brasil passou a exercer o papel ridículo que boa parte da imprensa se curvou a prestar: fazer propaganda Petista.
O IG é vendido ao governo. Duvide do IG. Duvide de Paulo Henrique Amorim. Duvide de Mino Carta. Duvide do PT. Eles estão sempre prontos a picaretar sua vida.
Na última edição da Carta Capital, a capa exibe orgulhosamente uma matéria macumbeira acerca da Rede Globo, intitulada: "A Globo Sofre". Trata de supostos índices em queda na audiência da emissora. Lula, e sua tropa de esquerdopatas, sonham em ver a emissora fechada. Lula queria fazer o mesmo que Hugo Chávez fez na Venezuela. Lula queria ser Chávez, mas tem vergonha de admitir.

O plano do PT para comandar a mídia brasileira já anda a passos largos. Enquanto a idéia de um canal estatal ser lançado no país amadurece, tentam fazer do IG um reduto esquerdopata na internet.
O elenco dos personagens em seu rol de blogueiros é impagável. Segue a escalação de quem possui um blog no portal: Paulo Henrique "Olá, tudo bem?" Amorim (http://conversa-afiada.ig.com.br/ ), entre as matérias vendidas da capa de seu site estão: "Serra e Kassab censuram a imprensa"; "Supremo Tribunal Federal está contra Lula" e um link para a reportagem da Carta Capital, "Globo Perde Audiência". Um retrato exemplar daquilo que os esquerdopatas consideram como padrão de "mídia imparcial".

A lista segue com Mino Carta, ( http://blogdomino.blig.ig.com.br/), cujo histórico de apadrinhamento ao PT já foi explorado acima.

Porém, o grande nome entre os blogueiros do IG é o chefe da quadrilha. Sim, amigos, José Dirceu, o Mafioso, também mantém um blog no portal. Alías, o chefão possui mais do que isso. O endereço eletrônico, http://blogdodirceu.blig.ig.com.br/, é um verdadeiro portal da figura que sintetiza toda a corrupção que foi, e continua a ser, o mandato de Lula. Dirceu foi apontado como chefe do esquema do mensalão, teve seu mandato como deputado cassado e foi demitido da Casa Civil. Mas ao que tudo indica, ainda tem fôlego para mais. Em recente entrevista ao programa "Provocações", da Tv Cultura, o mafioso Zé dispara: "Se eu tivesse renunciado o mandato no auge da crise de 2005, com certeza teria sido eleito novamente nas eleições de 2006". E cá entre nós, se Zé Dirceu tem certeza disso, eu não duvidaria, posto que de táticas para eleger qualquer anta ele entende.
Todos os blogs citados, vendidos ao PT, possuem uma característica em comum, além dos erros de português: o fracasso, seus posts dificilmente ultrapassam a marca de 10 comentários. Mas eles não devem se preocupar com isso.

Claro que ocorreu-me a tentação de tecer um doce comentário no "Blog do Zé". Mas o conceito de "mídia independente" do PT me limitou bastante. No alto da capa do blog, Zé Dirceu adverte: "Obrigado por seu comentário. Este blog é mediado. Não serão publicados comentários com palavras de baixo calão, denúncias levianas e troca de ofensas entre os leitores". O valor do salário pago pelo IG a Zé Dirceu, o Mafioso, é desconhecido. Mas de onde vem esse dinheiro, todos sabemos: do nosso bolso, é claro. Cuidado com o IG, cuidado com o PT. Um dia eles vão picaretar sua vida.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

As faces do Pecado

Renan Calheiros desejou a luxúria. Mônica Veloso escolheu a cobiça. Luciano Huck ostentou sua soberba.
O político alcançou o lugar mais alto do senado. Conseguiu respeito. Era um homem temido. Casado, desonesto e manipulador, ainda restava-lhe um desejo a qual não havia provado: o poder da conquista.
A jornalista tinha algum sucesso em sua carreira. Apresentou um telejornal brasiliense, em uma afiliada à Rede Globo. Mas lhe faltava algo: notoriedade.
O apresentador tem uma vida bem sucedida. Líder de audiência na maior emissora do país. Casado com uma mulher igualmente reconhecida. Sobravam-lhe poder e notoriedade.
Mas ele queria mais. Faltava-lhe o respeito alheio, despertar em todos um sentimento: inveja.
Eles conseguiram o que queriam. Mas pagaram o seu preço.

A alpinista social Mônica Veloso não se satisfez com uma pensão "alimentícia" no valor de 14 mil reais, paga mediante a dinheiro sujo de uma empreiteira.
Esse mensalão promíscuo que recebia era fruto de uma relação da jornalista com o ex-presidente do senado, Renan Calheiros. Relação esta que, além de originar uma filha fora de seu casamento, detonou a imagem do político alagoano.
O objeto de desejo de Renan não era Mônica, mas sim o que ela representava: mulher bonita, jovem, atraente. Tudo o que um homem mau-caráter e bem sucedido espera esbanjar, entre carros importados e ternos caros, para seus companheiros.
Mônica também não desejava Renan. Ela queria sua imagem, seu dinheiro, sua fama. Tudo o que uma mulher oportunista e gananciosa deseja ter ao lado, para pagar as contas do fim do mês e, de quebra, torná-la conhecida nacionalmente, algo que dificilmente conseguiria pelas próprias pernas. Com o perdão da ironia do trocadilho, posto que foi exatamente abrindo-as que atingiu seu objetivo.
Renan, em mais uma manobra suja de sua biografia, pediu recentemente o seu afastamento da presidência do Senado. Após manipular seus companheiros enlameados, conseguiu uma absolvição de seus processos por falta de decoro parlamentar, mesmo sem conseguir explicar decentemente a origem do dinheiro indecente que usava para sustentar a amante.
Mônica desfruta de seus segundos de fama exibindo-se nua na capa de uma revista. Conseguiu a notoriedade, porém, sua fama será para sempre de mulher aproveitadora.
Luciano Huck dirigia seu carro nos Jardins, bairro nobre paulistano. Em seu pulso, ostentava um relógio da marca Rolex avaliado em 15 mil reais. A sua necessidade era de impor respeito. O objeto, além de contar as horas, reflete o status de seu proprietário.
Huck só não cogitou pensar que, em um país como o Brasil, usar um relógio desse valor é um atestado de alienação à desigualdade social e seus conseqüentes problemas.
Teve seu Rolex roubado em um semáforo. Os diamantes despertaram a cobiça do assaltante, responsável pelo roubo.
O apresentador obteve um espaço cedido no jornal Folha de S. Paulo e expressou seu descontentamento. Um desabafo contra a violência aplicada a alguém que trabalhou honestamente para adquirir aquele bem e detinha o direito de poder usá-lo.
Expresso aqui, o meu desabafo.
Um desabafo à ignorância em considerar 15 mil reais um preço normal por um relógio, enquanto ao lado, milhares estão esperando a hora de levar uma bala perdida ou morrer de fome.
À burrice de uma mídia preguiçosa e marqueteira em conceder tamanho espaço e destaque a uma pessoa que não tem nada a dizer, que representa o fétido estereótipo de mulher-objeto oportunista.
À safadeza de uma pessoa que mente à esposa, aos filhos, à imprensa, à justiça e ao próprio senado e recebe como premiação a confiança e honorabilidade preservada pelos seus colegas de plenário.
Se Luciano Huck deseja usar tranqüilamente um Rolex pelas ruas, que se mude para a Europa.
Se Mônica Veloso orgulha-se em trocar seu caráter por fama e dinheiro, que passe a viver em um bordel.
Se Renan Calheiros almeja continuar a enxotar a opinião pública e seguir com seus golpes corruptos para se manter no poder e criar vacas, que vá para o inferno.
E aqui se revela o meu pecado: a ira.

domingo, 14 de outubro de 2007

Entre Capitão Nascimento, Foucault e Che Guevara


O lado podre da sociedade é resultado de uma soma indigesta: esquerdopatas ignorantes, neo-liberais nojentos e alienados apolíticos. Começo pelo último grupo, exatamente por ser o mais inofensivo. O único mal que causam perante aos outros é a vergonha alheia. São os que simplesmente ignoram qualquer questão social e política, em prol de um Carpe Diem bestial. Vestem uma camiseta do Che Guevara para comprar um Big Mac com a ingenuidade de uma criança lenta.
Os outros dois batalhões irritam um pouco mais. E é aqui que a lógica de Capitão Nascimento entra em cena.

As diferentes reações ao filme Tropa de Elite podem servir como ótimo parâmetro para qualificar a própria sociedade na qual as questões centrais do filme estão inseridas.
Uma direita frescurenta tratou de correr para tentar tirar a credibilidade e, acima de tudo, a legitimidade dos métodos e da ideologia pregados por Capitão Nascimento.
Indignados de seus apartamentos, fizeram coro dos gritos de "fascista" por toda mídia preguiçosa. Esse "fascismo" é atribuído à intolerância do policial do B.O.P.E. aos usuários de drogas. Para quem assistiu ao filme, são aqueles participantes de "passeatas pela paz". Fumam um beck enquanto criticam o sistema opressor. É a turma do Foucault, também citado no longa.

O filósofo francês afirmava, antes de morrer em 1984, que "o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades."
Ao mesmo tempo que reclamam da "opressão" do poder - governo, polícia e demais instituições públicas- esses liberais também querem usufruir de uma sociedade segura, livre da criminalidade, enquanto acendem as duas pontas do problema.
E tentam derrubar Capitão Nascimento não porque anseiam um anarquismo - aversão à qualquer forma de poder - e nem mesmo por estar do lado dos "bandidos". Fazem isso porque o comandante do B.O.P.E. escancara um fato latente, mas que sempre teima em se camuflar: quem usa droga financia a violência. Capitão Nascimento faz esse tipo de gente se sentir envergonhada.
Nesse ponto, a direita, muitas vezes inconscientemente, colide com idéias originalmente comunistas. O falatório de Foucault afirma que o poder é impossível de ser centralizado em uma instituição ou no Estado. Seria ele dividido nas mãos da sociedade. A partir dessa ótica, fica anulada a famigerada "tomada do poder", mantra dos marxistas.

Em relação ao primeiro grupo citado, os "esquerdopatas", seria historicamente mais fiel apontar Karl Marx como garoto-propaganda de suas extravagâncias intelectuais. Porém, a realidade da esquerda brasileira se espelha mais em Che do que Marx. Essa tribo vermelha se mostra preconceituosa, totalitária e apresenta um total desprezo pelas liberdades individuais. O vermelho desses medíocres não é de raiva ao sistema, mas sim, às opiniões diferente de seus mundinhos socialistas fakes.
Ignoram a realidade, preferindo botar a culpa de todos os problemas em George Bush, Rede Globo e Mc'Donalds a pensar em soluções atuais e possíveis, isentos de qualquer pré-disposição politico-partidária. Os esquerdistas encontram, em Capitão Nascimento, alguns elementos que o fizeram adorar Che Guevara, vibrando ao assistir Tropa de Elite pela violência das cenas de tortura e do treinamento dos aspirantes.

Não entendem que o policial, no filme, combate problemas concretos. E, tratando de marxistas, toda a realidade é ignorada e não serve de argumento contestador à burrice que é o comunismo virtual como forma de poder. Essa esquerda fictícia se esconde atrás do marxismo para relevar e, até mesmo, ignorar as manchas porcas que Che e Fidel Castro espalharam pela América Latina. Che Guevara lutava por ideais, Capitão Nascimento lutava pela realidade. Se os dois se encontrassem, em uma hipotética situação, certamente estariam em posições opostas de todo esse conflito ideológico da sociedade. Além de botar em risco a existência da famosa foto do cadáver de Che, porque, como todos sabemos, o calibre 12 estraga qualquer velório.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Che Guevara, a Saga de um Porco

Che Guevara nasceu na Argentina. Ajudou a humilhação-política-viva Fidel Castro a implantar uma ditadura em Cuba, e foi morrer encurralado, fraco e covarde na Bolívia, há 40 anos. Alguém com esse currículo não pode ser considerado um mito.
Asmático, Ernesto Guevara de la Serna foi recusado no serviço militar argentino por inaptidão física. Talvez esse episódio constrangedor lhe serviu de mote inspirador para, anos depois, trocar a medicina pela guerrilha armada que visava uma América Latina unificada. Parou de salvar vidas para assassiná-las violentamente.

Em 1953, El Chancho (o porco) se debanda para a Guatemala no intuito de fornecer apoio político e sanguinolento ao então presidente Jacob Arbenz, de ideais comunistas.

Arbenz era uma espécie de Lula guatemalteco. Um Hugo Chávez da América Central. Um enganador de pobres. Opondo-se a isso, o governo dos EUA inicia um movimento para depor Arbenz. Che Guevara junta sua bombinha de asma, um discurso afinado e muita bala para tentar evitar.
Ufanismo roto à parte, fica amigo de Raúl Castro durante uma passagem pelo México. Raúl, um homem de visão, reconhece em Che, características semelhantes de seu irmão mais velho. Entra na história o caquético, o arquétipo do atraso político, a vergonha do comunismo de farda verde-musgo: Fidel Castro.
De mãos dadas, cantarolando Chico Buarque, o Porco executa, com seu novo amiguinho, o único sucesso de sua carreira guerrilheira: implantar uma ditadura em Cuba.


Em 59, Fidel e Che recebem apoio financeiro e armamentistas dos carniceiros soviéticos e derrubam do poder o presidente de Cuba, Fulgencio Batista. Passados 49 anos no comando, o verme Fidel Castro segue à risca a cartilha do Porco para se manter ditatorialmente no poder: totalitarismo em primeiro lugar, implementação da burrice e alienação política de sua população.


Resultado glorioso. Cuba é hoje uma ilha da ignorância. Uma espinha geopolítica cheia de pus. Uma população que escapa das garras de Fidel na primeira oportunidade que aparece. Os menos sortudos, que permanecem na ilha, sofrem um racionamento de água, luz, energia e alimentos, além de terem arrancados vários direitos civis libertários. E esse, companheiros, foi o sucesso de Che Guevara, sua obra-prima porcalhona, que espalha, até hoje, sangue e pobreza por onde passou. Fidel, nos dias atuais, anda mal. Em estado de saúde tão agonizante quanto seu país. Porém, seu substituto já fora escolhido: o caçulinha Raul Castro.
...
A fabricação de um mito


Após mais um fracasso em sua biografia, durante uma investida falida pela África, no Congo, o Porco retorna com o desejo de unificar os países da América Latina (pasmem, se tudo desse certo, pelos planos de Che, nosso presidente seria Fidel Castro).
Enfia-se com um passaporte uruguaio falso em províncias campestres pelo interior da Bolívia. É enxotado pela população local. Em 9 de outubro de 1967, camponeses denunciam Guevara às autoridades, que encontram um Che derrotado, acoado e acovardado. Fuzilam o Porco no mesmo dia. Sua mão direita é arrancada para exame ideológico. Sua carcaça só fora encontrada quase 30 anos depois, em um terreno baldio.

Um corte de cabelo em seu cadáver o deixou com uma imagem santificada. Alberto Korda, um fotógrafo cubano contratado pelos militares bolivianos, fez a foto. Mas ela só ficou famosa anos depois, quando um artista plástico pago em dinheiro comunista, o irlandês Jim Fitzpatrick, criou uma estampa baseada na foto e a publicou. É a imagem mais difundida de toda a história. E ironicamente, estampa produtos e mercadorias consumistas por todo o planeta, alguns em lugares nem um pouco honrosos, como o braço de Maradona. Ainda bem que do porco, só sobraram as tripas e o hino ultrapassado e cada vez mais insignificante do comunismo.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

PMNFE - A Flatulência de Brasília

Lobão poderia ser somente um grande letrista. Ou um daqueles rockeiros falastrões, cabeludos, farofeiros, mas capazes de ótimas canções. Mas não. Ele quis ser mais. E acabou por se deixar levar a ser algo que, aparentemente, ocupa a maior parte de seu tempo: parecer bestial.
Você, raro leitor, provavelmente não entendeu o título desse texto, certo? É, nem eu. Mas Lobão sabe o que significa. E andou pelos quatro cantos de Brasília tentando explicar. Trata-se da sigla de um "partido político e bloco carnavalesco", criado por ele, e que ganha adeptos a cada dia: Peidei Mas Não Fui Eu!
A idéia até que é boa, escancara as atitudes indecorosas que nossos representantes do governo cometem e insistem em negar mesmo em frente a provas contundentes. Algo como Renan Calheiros explicando suas inexplicáveis vacas voadoras, ou o presidente Lula negando o inegável mensalão. Porém, a partir de um título pífio, pode também ser resumida como a prática pouco honrosa de "peidar" e não assumir o feito, apesar do cheiro flagrante. E é aí que o músico deixa de lado o protesto contundente contra os maus políticos para entrar no ramo da galhofa nacional. E destaque que isso tudo veio à mente de Lobão durante a turnê de seu acústico Mtv, na minha opinião, o melhor disco de rock do ano.
E a culpa dessa chacotagem que transformou-se na imagem do congresso é dos mesmos políticos que deveriam defendê-la. Fica difícil falar sério quando o assunto é mensalão, dinheiro na cueca, amantes, caixa dois, cafetonas. E são todos esses personagens desse tragi-cômico espetáculo orquestrados pelo maestro da sem-vergonhice do planalto: Luis Inácio Não-Sei-de-Nada da Silva.
Agora, voltemos a você, leitor. O que você faria com uma idéia dessas, provavelmente desencorajada por seus verdadeiros amigos? Claro! Bolaria uma musiquinha em cima de uma melodia do Chico Buarque e colocaria no YouTube!
Com vocês, Lobão em "Quem será que peidar". (Pelo menos ficou melhor do que a versão do Chico)
p.s. Só para constar, eu apoio qualquer manifestação cultural ou não que tenha como objetivo denegrir a imagem dos políticos brasileiros. Dito isso, deixo aqui o meu apoio ao Lobão, apesar de achar essa coisa toda um tanto ridícula demais.



quinta-feira, 27 de setembro de 2007

E-mail de Calvin para Suzie e vice-versa



tuesday, 18 de fev. de 1999, 14:44 p.m. from: hobbes_dude@worldmail.com to: suzy_derkins@ucla.edu subject:

oi suzy, vamos direto ao ponto. preciso de grana. entrar e sair de centros de reabilitação não é necessariamente o que você imaginaria um programa barato. reclame o quanto quiser, mas você ainda me deve essa. sei, sou um babaca e etc e tal. e daí? não dou a mínima para seus conselhos, nunca dei. mudei, mudamos. mas continuo não dando muita bola pro que você pensa, portanto mande dinheiro e nem pense em me responder com sua habitual ladainha. estou acessando esta porra de computador (odeio macs mesmo, sou o único que afirma isso em voz alta!) nessa merda de shopping, crianças não param de gritar aqui atrás. quem brinca com lego hoje em dia? elas ficam jogando as peças umas nas outras e uma quase engoliu um tijolo da série madonna. acredita em legos série madonna? pois é. merda, já comecei a descrever tudo de novo, lembra quando eu descrevia pra você a neve de denver e você cantava pra mim pelo telefone? vai chorar suzy? suzy cry baby! não faz essa cara - suzy cry baby - onde foi que erramos? ah, who cares... sua filha já brinca com o hobbes? já encheu ele de genuíno carinho infantil, passeou com ele por aí no campus? só você pra casar com um professor, depois de tudo, suzy. eu fui tão escroto assim é? nós iríamos crescer um dia, suzy derkins. eu ia perder meu charme de garoto tímido-boca-aberta-day-dreamer. ah, eu ia. ontem mesmo tentei brincar de spiff com duas crianças na praça e um guarda quis me prender por molestação. justo eu. são os anos 90 e eles estão se esvaindo, suzy. oh hell. grana suzy, por favor. dessa vez vou sair limpo, são e com menos devedores atrás de mim. i swear to god. bye sweetie calvin.
p.s.: se vc não responder logo, vou ligar.

tuesday, 22 de fev. de 1999, 14:44 p.m. from: suzy_derkins@ucla.edu to: hobbes_dude@worldmail.com subject: Re:

Calvin, seu desbocado. você me pergunta tanto quando quem deveria estar começando a fornecer respostas é ninguém outro que você. é imensamente respeitável o fato de que caminhando em direções opostas nossas chances de reencontro são nearly impossible.você me pergunta tanto. e eu mal começo a responder e já estou calando a boca de novo para ouvir seus pequenos dissabores.você já reparou como eu não consigo olhar pra muita gente nos olhos? você já reparou que meus primeiros cinco segundos no telefone são feitos de pavor adolescente? seja quem estiver ouvindo do outro lado da linha. quando foi a última vez que a vida mostrou-se surpreendente nos últimos 15 dias? quando é que você vai se conformar que o inesperado nunca vai avisar de sua chegada? não sei se existe um dia que nunca chega. não sei mesmo cal. vá passear num dia de sol e vá ler um livro e achar um emprego. me liga perto do natal me dando um endereço fixo para eu te mandar um cartão e uma foto da evan. hobbes dorme comigo e ainda sorri, evan chorou quando um olho dele caiu. eu costurei de novo e ela olhou atentamente e disse: "e se voce costurou de cabeça pra baixo mãe? hobbes vai ver o mundo de dois jeitos diferentes?" é lindo né? mas voce nunca admitiria. ela aponta para seus cabelos espetados quando vê as fotos. aprendi a não chorar quando chegam seus e-mails ásperos e chocantemente divertidos. sem dinheiro pra você, golden boy. luv, suzy.


tuesday, 18 de fev. de 1999, 14:44 p.m. from: hobbes_dude@worldmail.com to: suzy_derkins@ucla.edu subject:


suzzzzzzzzzzzzzzz, hoje eu acordei fazendo uma five year old question: “para onde voam os ventiladores de teto no inverno?”. você não entenderia o que é poder entrar em 4 bares numa mesma noite (você nunca foi parceira pra isso) e não tomar rigorosamente nada. quanto ao dinheiro, hey ho! no último bar encontrei uma garota que é roadie de uma banda daqui (“os abomináveis filhos de sartre”) e ela disse que vai me conseguir um emprego vendendo camisetas no show. ah, se eu tivesse toda essa determinação quando moramos juntos, né? o som é uma espécie de bee gees pós-seattle. cool , huh? não torce o nariz, quem já foi num show da lisa minelli não pode torcer o nariz pra mais nada. pergunta pra evan sobre os ventiladores de teto. e deixe de ser tão corrosiva suzie, não é pra convesar comigo mesmo que eu te escrevo, se fosse assim eu leria a sessão de quadrinhos do jornal até a vontade passar. acabo de lembrar que deixei o telefone da roadie em casa. beijos e aranhas de plástico no seu lanche, cal.


tuesday, 22 de fev. de 1999, 14:44 p.m. from: suzy_derkins@ucla.edu to: hobbes_dude@worldmail.com subject: Re:

calvin, seu astronauta de shopping,
se você fosse menos ácido eu não ficaria tão inclinada a entrar no jogo do ele disse/ela disse por e-mail. certo, é seu o título de corrisivo-junkie bom vivant. good for you. evan aprendeu a fazer dobraduras na creche, e são essas coisas que me importam. sinto que sobra vontade e falta sonho toda vez que você veste seu salva-vidas no mar de empregos temporários. frustração diária se combate com os olhos atentos para o inesperado, cal.
acabo de ganhar um barquinho feito pela evan. às vezes eu quero desdobrar o origami em que me tornei. hobbes disse que os ventiladores de teto no inverno vão atrás de meninos que não querem tomar banho.
escrevi a palavra divórcio no meu diário pela primeira vez.
“love in the 90s is paranoid.”
lembre disso quando ligar pra roadie,
beijos e sopa para jantar,
suz.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Obsessão

A noite caía trôpega ao seu lado. Estavam anoitecendo juntos, ele e a noite, enquanto aquele sambinha barato cantado por um bêbado não saía de sua cabeça. Tentava se livrar de muitos fantasmas, mas estavam todos lá. Olhava para a noite com um ar cínico, quase que estranhando-a, mesmo sabendo ser ela sua mais fiel companheira. Acha isso irônico? Você ainda não viu nada.
"Já não é amor, já não é paixão. O que eu sinto por você é obsessão". Essa frase piegas não desgrudava de sua cabeça. E olha que odiava samba, sempre odiou. Há músicas que, sem a menor razão, simplesmente não saem da cabeça. Mas não era o caso, dessa vez, aquilo tudo fazia sentido.
Ficou pensando sobre o que levou a sentir tamanha incoerência. Àquela altura do campeonato muita coisa já estava perdida. E isso não era surpreendente. Seria a ironia pegando uma peça?
Surpreendente foi sentir a falta de algo nunca antes ausente. Como se lhe tivessem arrancado um braço, sem ao menos ele saber que o braço podia ser arrancado. E não era amor, era obsessão.
A conta é simples: se toda essa história de alma gêmea realmente existe, seria coincidência ela sempre ser encontrada em um raio de 2 km de sua casa?
Não seria o caso de, por ironia do destino, a dele residir na Nicarágua? Não. Nossas Almas Gêmeas sempre nos rodeiam. E isso não fazia sentido algum para ele. Até porque, àquela altura do campeonato, já era tudo obsessão. E muita coisa já havia sido perdida, e o braço não estava mais pregado ao corpo.
Por mais irônico que fosse, ele acreditava em coisas que não lhe faziam sentido. Acreditava em amor, em paixão. Só não botava fé na obsessão. Acreditava até mesmo em alma. Alma existe? A conta era simples, se a alguns pares de séculos atrás, o planeta Terra era habitado por 1 bilhão de pessoas, que hoje já se transformaram em mais de 6 bilhões, de onde vieram essas 5 bilhões de almas extras? Haveria um planeta reservatório de almas? A reencarnação não fazia sentido.
Estava confuso, trôpego. A cada cigarro tudo se tornava mais confuso. E a noite caía ao seu lado.E também era trôpega. E repetitiva. Confuso, trôpego. Fumava um pouco mais do que de costume. Talvez, por estar repetitivo.
Sabia que aquela não podia ser sua alma gêmea. Não porque ela não fosse suficiente boa para ele, mas somente porque não acreditava em alma gêmea. Não acreditava no amor, na paixão. Amar é verbo egoísta. Era tudo obsessão. Quem diz que ama só espera ser satisfeito os desejos próprios, a sua felicidade. Até quando é solidário, o amor é egoísta. O Outro é o espelho que reflete a si mesmo, em forma de outro. Quem ama de verdade ama calado, sozinho.
E ela gostava dele, mesmo dizendo que gostava, mesmo não gostando calada. Ela fingia que o amava, e o amava de verdade ao mesmo tempo. Mas até aquilo tudo fazer sentido para ele, muita coisa já havia sido perdida.
E ele já não acreditava quando ela dizia que amava. Em nem sequer uma letra do que daquela boca saía.
Não porque achava que não fosse sincera, ou que não fosse suficientemente boa para ele. Não o fazia simplesmente por não acreditar no amor, na paixão. Não conjugava mais o amar. Entre o sujeito e o verbo havia uma vírgula. Uma elipse de si mesmo. E usava um narrador onisciente, tentando disfarçar sua obsessão para o que era, reconhecidamente de fato, obsessão. havia se transformado numa terceira pessoa que começava frases com letras minúsculas. Estava confuso demais para tudo aquilo. E trôpego. Já não havia mais EU. Já não era mais amor. Não podia ser. Só fazia sentido se quando fosse verdadeiro, não houvesse dúvida. Mas ele não acreditava em nada daquilo. Ele duvidava de suas dúvidas, ao mesmo tempo que não acreditava mais em suas certezas. Botava em xeque até mesmo sua cara. O resto do braço arrancado não causava-lhe dor. Deixava apenas a lembrança que ali já havia acontecido um braço, que lhe fora arrancado.
Acendeu outro cigarro: seria possível o amor ser o causador de tanta confusão? Seria irônico, mas talvez, àquela altura do campeonato, fosse só obsessão.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Produtos do Ócio: As Férias dos Los Hermanos



Dominó? Passeio no parque? Chá com os amigos? Que nada! Enquanto os esperados discos solos de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante não saem, os hermanos parecem bem à vontade em sua nova investida cultural: curtir a aposentadoria adoidado!


E o bloco, que já fora do eu sozinho, ao que parece, anda bem agitado. No vídeo acima, o guitarrista e vocalista, Rodrigo Amarante, em uma atuação peculiar, interpreta a canção "Eu bebo Sim", junto ao seu mais assíduo projeto, a big band carioca Orquestra Imperial, com a qual acaba de lançar o regular cd "Carnaval Só Ano Que Vem". O projeto, que já vinha tomando algum espaço do músico junto a carreira do Los Hermanos, e ao "final temporário" da banda, virou sua principal atividade, já foi apontado como um dos fatores determinantes do recesso. Outras supostas razões apontam para um conflito criativo entre as composições de Amarante e Camelo. Mera especulação de quem não sabe muito o que dizer. Independente da causa, o que parece é que os dois cantores se tornaram maiores que a banda.

Deparei-me com o tal "Carnaval Ano Que Vem" semana passada. Intempestividades à parte, demorei um tanto de tempo para entender o disco. O som nos faz lembar dos antigos bailes carnavalescos (mesmo àqueles que, assim como eu, nunca foi a um deles). Uma grande seleção de novas marchinhas e monotonias mpbísticas capazes de alguma empolgação. Quem espera uma influência maior de Amarante no disco se decepciona. Não há nada na Orquestra que se confunda com algo de Los Hermanos. Seria um Rodrigo Amarante que os hermanos não deixavam transparecer com tamanha nitidez? Talvez. Não me atreverei a dizer do que é feito o samba. Mas dá para arriscar de onde ele vinha para a banda: de Amarante, é claro.

Muita balela já fora relacionada à esse vídeo. Títulos como "Amarante Doidão" ou "Amarante muito louco" mostra toda a superficialidade de quem não consegue enxergar que, de fato, não se tratava de nada além de uma encenação hilária. E como vocês já devem ter reparados, eu sou totalmente contrário a polêmicas infundadas. O vídeo se torna algo a competir com a também hilariante parceria insólita Sandy, a Virgem e Marcelo Camelo (artigo já publicado aqui no Clube).


Outro integrante que arrisca em novos ares é o tecladista Rodrigo Medina. Fundamental para a parte melódica da banda (apesar de algumas introduções de seu tecladinho me irritarem um pouco), Medina investiu maior atenção a seu interessante blog, Instante Posterior, publicado pelo portal G1. Entre rabiscos literários, análises culturais e atualidades, o blog dá peculiar atenção às peripécias quase camponesas do músico, pós-Los Hermanos. Uma delas eu destaco aqui na foto, revelando, em uma pose nada muito charmosa, uma de suas novas atividades: montaria estática. Aparentemente, ficaria mais à vontade na frente do computador.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Para Quando nos Faltarem Palavras

Sempre nos orgulhamos da complexidade e riqueza de nossa Língua Portuguesa. Nos gabamos ao deparar com um estrangeiro e explicar que, para o sentimento de falta de alguém ou alguma coisa, no nosso idioma existe uma palavra compatível, e das mais belas existentes: Saudade.
Porém, não são todos sentimentos e idéias que a Língua Portuguesa é capaz de desvendar em letras. O livro Tingo, recém lançado pela editora Conrad, lista vários exemplos de ações que todos realizam, mas só alguns podem relatar em um único termo.
Quando uma música não sai de sua cabeça, por exemplo, não temos um termo compatível a essa ação em Português. Porém, para quem vive na Alemanha, Ohrwurm descreve exatamente isso.
Todos nós procuramos uma "alma gêmea", alguém para passar o resto de nossas vidas juntos, certo? Ok, contudo, na Nicarágua, o dialeto ulwa sabe exatamente como descrever esse fato: alamnaka!

"Tingo - O Irresistível Almanaque das Palavras que a Gente Não Tem", surge não apenas como uma coletânea de curiosidades sobre diversos idiomas pelo mundo, mas também nos leva a uma reflexão sobre nós mesmos, e como consideramos determinados sentimentos que nos acometem. É difícil imaginar que, diante de vários acontecimentos ínfimos de nosso dia-a-dia, simplesmente não temos palavras. "Nós somos o que sentimos". Acrescento a tal máxima, "Nós sentimos o que podemos expressar".
Continuando a viagem de Tingo pelo mundo das palavras, em persa, a palavra mahj significa "parecer bonita depois de uma doença". Todo mundo tem o costume de cantarolar para si mesmo alguma canção. Os turcos, além de fazê-lo, o denominam: dizlanmak!
Nos falta também, uma palavra que defina o singelo ato de comer os restos de comida de outra pessoa. Sunarsopok, em inuíte, idioma falado pelos esquimós, singnifica exatamente isso.
É fato que o autor do livro, Adam Jacot de Boinod, deve ser uma pessoa com uma quantidade invejável de tempo livre. Mas essa pesquisa realizada, e que na edição foi dividida em temas como "Coisas do Coração", se mostra tentadora e um excelente passatempo para todos aqueles amantes das letras.




quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Blá-Blá-Blá de Heroes


Estréia domingo para os brasileiros a série de maior sucesso do momento, para os americanos. Heroes desbancou L.O.S.T. do primeiro lugar e promete aquecer o mercado da lataria-reciclável que virou a nossa querida e estimada televisão.
O roteiro de Heroes é tão encantadoramente piegas quanto surpreendentemente repetitivo, usa meia-dúzia de atores com o padrão "malhação" de qualidade e abusa de efeitos especiais de quinta categoria. Nada que uma mega divulgação mundial não possa resolver em alguns milhões de dólares. De quebra, a trilha sonora é também nem um pouco original (o vídeo acima é o trailer promocional dos últimos capítulos da temporada).
O que se poderia esperar dessa mistura desastrosa?
Sucesso! É claro.
"Mas se é tão ruim assim, por quê tanta gente assiste?"

Não pretendo agora entrar na discussão retórica de que sucesso não é sinônimo de qualidade, ou que os programas líderes de audiência quase sempre são pífios em valor cultural.
Nem menos irei pedir auxílio a Nelson Rodrigues, com a sua pontualidade: "Toda unanimidade é burra!" Diria ele.
Dessa vez, vou apelar à quimica de Lavoisier para buscar um tanto de luz nesse túnel do plágio batizado de Heroes. Porém, ao contrário do que ocorre na natureza, na televisão nada se cria ou se tranforma: tudo se copia.

Voltamos algum tempo, à Marvel, gigante dos quadrinhos, e seu X-Men.
Adolescentes típicos, daqueles vistos em qualquer cyber-café debatendo a filosofia do Msn, se descobrem detentores de poderes extra-humanos (Heroes copiou isso). Entre evitar catástrofes, salvar a humanidade e combater o mal (Heroes copiou isso), os heróis-mutantes da série convivem com conflitos existencialistas da profundeza de um pirex, com a intensidade de uma tempestade (Heroes copiou isso). Os X-Men's, além de seus oponentes, travam constantes combates internos, exaltando não somente seus super poderes, como também a fragilidade humana existente em cada um (Pasmem: Heroes também copiou isso!).

Engana quem considerar Heroes simplesmente uma cópia mal-sucedida de X-Men: é uma cópia mal-sucedida com bônus! Em que outro roteiro você poderia presenciar o seguinte diálogo: "-Quando eu salvei você, eu salvei o mundo?/ - Eu não sei, sou apenas uma líder de torcida". Seria cômico se não fosse uma ficção-científica-pré-adolescente.
"Mas se é tão ruim assim, por quê tanta gente assiste?"

Essa frase martela minha cabeça desde Harry Potter. Desde Lost. Desde Big Brother...
Chego, ao final desse túnel, sem respostas e me dobro diante da inquestionabilidade da dúvida: Se é tão ruim assim, por quê você assiste?
Deve ser por tédio.
Heroes, estréia da primeira temporada domingo, na Record.
Vai indo que eu não vou.



....



Tarantino diz não!


O diretor de "Kill Bill" e "Pulp Fiction" revelou que já foi chamado inúmeras vezes para dirigir um episódio da série dos heróis - e declinou todos os convites.

Em entrevista para o jornal britânico The Sun: "Eles tentaram fazer com que eu fizesse um episódio. Eu nunca vi a m**** da série. Que m**** é 'Heroes'?".

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Tapa na Cara da Hipocrisia Social

"Às vezes eu me pergunto: Quantas crianças precisam morrer para um playboy fumar um baseado?"

Essa conta ainda não foi feita. O bando de sociólogos pseudo-cults está muito mais ocupado em inflar o seu próprio ego do que encarar a realidade. Porém, o produto final dessa matemática macabra está por toda parte, escancarada em qualquer estatística que acostumamos a ignorar. O assunto parece clichê, piegas ou até mesmo hipócrita. O filme que relata isso não (uma das cenas mostrada no vídeo acima).

"Tropa de Elite", com direção e produção de José Padilhe, o mesmo do documentário Ônibus 174, apresenta à elite o policial do B.O.P.E., Capitão Nascimento, autor da frase que inicia esse texto e interpretado impecavelmente por Wágner Moura. Além da parte falida e corrupta da polícia militar carioca e o poder que o tráfico exerce na cidade - temas já abordados em outros filmes, como Cidade de Deus - a produção, prevista para entrar em cartaz ainda esse ano (mas que teve uma cópia divulgada clandestinamente na internet), inova e, ao mesmo tempo, choca uma sociedade hipócrita que, sarcasticamente, dá aval ao motor que sustenta a indústria do tráfico: Você, maconheiro. Você, que acha o maior barato fumar "unzinho" em suas rodinhas pseudo-anárquicas. Você, que se reúne a seus cúmplices para queimar a bandeira da opressão, da elite, ou da aversão ao sistema enquanto fuma o destino de milhares de crianças com dias limitados à bala de fuzil na cabeça. É você, seu maconheiro, que abastece o bolso de traficantes em troca de meia hora de "diversão". Eu tenho nojo disso. Eu tenho nojo de você.

Uma pessoa que usa drogas não tem o direito de reclamar do sistema. Não tem o direito de botar a culpa dos males da sociedade na violência, nem nos políticos. Uma pessoa que compra maconha e pó da mão de bandido, também é bandido. Mas, nesse mundo que sempre há de ter forças para nos surpreender, em mais uma de suas irônicas inversões de valores, o que vemos é uma adoração a esse tipo de gente, seja na mídia (adotando ícones como Marcelo D2 e seu Planet Hemp), nas ruas, nos morros e, para mim, a parte mais irônica dessa história: Nas Universidades.

O local que era para ser o centro da formação intelectual dos jovens, vira a casaca ao transformar-se em um culto à bestialidade. O cara descolado da turma é o que traz a droga. "O foda da faculdade, é que à primeira vista os estudantes são caras legais pra caralho. É um lugar cheio de mocinhas lindas e com boas intenções". O que vemos nos indignamentes denominados Centros de Ciências Humanas é o lixo cultural que contaminou os valores da sociedade. E esse esgoto da modinha em ser rebelde fede. E muito. Como Você, maconheiro, tem estômago para discutir consciência social e cultura depois de enrolar um baseado? Você não se sente parte do crime? Você não percebe que é usado e incentivado pelos traficantes midiáticos e marqueteiros a se transformar em uma mula? Se ainda lhe restou algum neurônio, maconheiro, pense.

...

Você e seus amigos se sentem bem à mesa de um bar. Trocando idéias e tomando cerveja, horas passam com um rapidez agradável. As histórias que ocorrem são hilárias e relembrar as tais com outros amigos, tomando outras cervejas, fazem você se sentir melhor ainda. Eu sei, eu também sou assim. Tomar umas com os amigos é demais. E, afinal de contas, se você souber se controlar, a cerveja nem faz tanto mal à saúde. Não exagerando na dose, evitando não beber antes de pegar o carro e com outros pequenos cuidados, você e seus amigos podem passar anos nessa bohemia saudável.

Agora, vamos viajar um pouco:

Imagine se surgissem reportagens denunciando uma cervejaria - tomemos como exemplo fictício a Skol - que usa, como trabalhadores, jovens e crianças de até 10 anos de idade. Nessa fábrica, os presidentes da empresa estão milionários, enquanto seus operários juvenis são arrancados de suas famílias, deixando mães aos prantos, e obrigados a trabalharem dia e noite em troca de trocados e pares de tênis importados.

A rotina é cruel, todos os empregados perderam a identidade, nunca pisaram na escola e só se comunicam por um dialeto exclusivo do ambiente. Quem passa na frente dessa cervejaria-fictícia para comprar sua cervejinha não enxerga seus bastidores. Porém, a reportagem é avassaladora. Escancara a violência que rege a organização. Em uma cena, obtida com uma câmera escondida também fictícia, pode-se ver algo chocante: um operário da Skol de 10 anos, ao derrubar por acidente uma garrafa que seria abastecida, é espancado pelos superiores. O sangue do menino se espalha entre a cerveja que escorre no chão. Seu colega, de idade semelhante, que não relatou o incidente ao chefe, sofre pena mais grave: tem sua cabeça estourada por uma espingarda calibre 12. Após alguns funcionários retirarem os dois pequenos corpos, já desfigurados, o trabalho recomeça na fábrica.

Diga com sinceridade: após essa reportagem fictícia, você se sentiria confortável para tomar uma Skol com seus amigos? Você iria achar legal o cara que leva umas latinhas da cerveja na mochila e distribui para os colegas da faculdade? Você não se sentiria culpado em ajudar a financiar tudo isso? Não iria lembrar da imagem com os dois garotos ensangüentados a cada gole de cerveja que tomasse?

Claro que isso é só ficção. Não tem nada a ver com a nossa realidade. É apenas um mundo imaginário que se parece com o nosso. Com problemas fictícios que se parecem com os nossos.

É impossível mudar o passado. Somos obrigados a conviver com o presente. Mas o futuro: esse a gente pode mudar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Outono é sempre igual: a Sandy estraga no final



Ouça essa música. Porém, pause o ponto 1:20m do vídeo. Aqui está a exata fronteira entre o Cult e o Brega; entre o Indie e o Pop; o Orgulho e o Preconceito; a Melodia e a Gritaria; a Calma e o "Vamo Pulá"; Chico Buarque e Chitãozinho; Clarice Lispector e J.K. Rowling; Franjinha e Mullets; Barba e Espinhas. E sabe qual a diferença real entre esses mesmos 80 segundos cantados por Marcelo Camelo (no Acústico Mtv, em "Quatro Estações) e o restante, gritado por Sandy? Você, platéia. A música (e isso é que devia importar) é exatamente a mesma.

Se Los Hermanos ou qualquer outro projeto barbudo tivesse lançado esses mesmos 1 minuto e 20 segundos em algum disco que já sai da gravadora com o selo CULT pregado à capa, toda a breguice que atrai tomates à dupla sertanejo-pop-teen daria lugar a sorrisos blasés pré-fabricados de uma penca de fãs que não aprendeu senso crítico na escola, além de palmas de uma crítica preguiçosa, que acha mais fácil copiar opiniões do que pensar.
Camelo, ou a sua interpretação, impôs na música todo o arzinho superior temperado à velha bossa-nova que dá o tom de sua obra e despenteia suas viúvas. Contudo, Sandy, a Virgem, não deixa barato. Um grito estridente deixa bem claro que estamos em terreno estranho, bem estranho, esquartejando qualquer resquício de saudade que o fim da dupla poderia causar.

Musicalmente falando, a versão é sofrível. A "química" entre os dois simplesmente não existe. A impressão que dá é que são duas canções em uma só: a diferença entre uma interpretação e outra é gritante, literalmente. A primeira parte ficou com o jeitão Los Hermanos, apesar da música ser de Sandy: letras existencialistas e, por vezes, com temas bucólicos (vide "o vento" ou "primavera"), pieguices ("o calor aquece o meu coração") e esquisitisse ("felicidade, uma quimera/viver sonhando, quem me dera"). Elementos que não saem da receita de qualquer canção de amor. Seja ele - o amor - ao próximo, a si mesmo ou à grana que um acústico Mtv às vésperas da "aposentadoria" das duas bandas pode render. Só falta Sandy e Junior cantarem "O Último Romance" para tirarmos a prova real e sabermos se o saco do qual saem essas duas farinhas é o mesmo.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Compêndio do Besteirol Instantâneo ou Escrito das Pseudo-Dúvidas Retóricas

Sentados e bebendo no boteco, alguém diz: “então, vocês viram aquela parada sobre a CPMF, eu vi que...” eis que um grito desesperado cruza a mesa “Não! Pára! Eu tô no bar! Num vim aqui pra conversas inteligentes!”. E logo complementa com um ar tão sapiente que fede a Sócrates, “aqui é lugar pra falar besteira”. É! Depois desses argumentos como discutir? Sempre há como discutir. O que é considerada uma conversa inteligente? Seria um fato desconhecido pelos demais, pretenso acontecimento exigente de um neurônio ou dois para ser entendido? Seria algo que não um clássico de um minuto e vinte do YouTube? Ou talvez, pra variar, a falta de equiparação “intelectual”, também representada pelo nome “inteligência”? Quando digo isso eu estou fazendo menção não à inteligência cognitiva, aquela responsável pela capacidade de raciocinar, fazer abstrações etc., mas sim à impressora de sensações, de que algo acima de nós está sendo proferido, um momento que nos parece colossal, assustador, distante. O que eu classifico como inteligência aqui não está no patamar do absoluto, pois iremos encontrá-la confortável e acomodada na superfície do relativo. Não é a esperteza de outrem, e sim a falta da nossa, logo, uma inteligência hipotética, que, doravante, será a nossa companheira nesse texto. Destarte, eu pondero, se o bar não é lugar para conversas inteligentes, se é um recinto que preza pela incondicional e inexpressiva necessidade de respirar, então, eu me pergunto, onde encontro o dito lugar? Já que ele não é o boteco, onde fica? Eu tento de forma vã visualizar esse antro cultural. Estaria ele entre o horário do almoço e o cochilo, ou então na hora do trabalho? Na faculdade? – forcei agora, eu admito, talvez seja a ansiedade tomando conta de mim, o desespero de descobrir como alcançar o limbo das idéias, dar uma passada lá, um ambiente no qual as exposições das minhas opiniões medíocres possam ser feitas em paz, quem sabe até exista gente morando lá, e elas não superestimem minhas considerações, nem subestimem elas mesmas.

Contudo, num segundo pensamento, será que seria interessante visitar uma vizinhança assim? Começo a ver que o lucro seria pouco, para mim, e para Maria Rita, Arnaldo Antunes, Ney Matogrosso, até mesmo os Mutantes. O que seria deles se não fossem as rodas de botecos não pensantes? E as bandas universitárias? Um genocídio de fato. O que faríamos se não pudéssemos negar o vangloriado e apoiar o podre, de que forma eu poderia dizer que Clarice Lispector é um lixo, e abraçar com tapas nas costas e argumentos levianos, mas pernosticamente embasados, Paulo Coelho. Também pode-se acusá-lo, sem ter a mínima noção do porquê, essa é um pouco menos criativa, mas, nessa altura, criatividade é usar boina. Teria eu que deixar aquele meu óculos de armação preta grossa e quadrada na gaveta? E todos aqueles filmes que eu assisti com muito sacrifício, xingando cada minuto passado para no instante seguinte elogiar cada movimento de câmera, cada cena subjetiva, conferida a rigor no Google, pobre Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Agora, eu não estou aqui também pra tirar um peso das suas costas, leitor, seu coitado, que assistiu Cães de Aluguel e riu do começo ao fim pelos motivos errados, patético. Na verdade esses pseudos duelos intelectuais são quase em sua totalidade engraçados, não há como não deixar de, pelo menos, rir por dentro daqueles comentários totalmente fora de contexto, geralmente longos e pedantes, cujo propósito é manter uma posição vazia e extensa. Ah, o subjetivo! Ah, arte! O inútil pelo inútil. Conciliar o bom gosto ao novo e ao mesmo tempo mostrar-se popular parece difícil até “Encontros e Despedidas” na abertura da novela das oito. Behind Blue Eyes, duas versões no PC, uma na rua, The Who! Selecionar o trigo dentro do joio é uma tarefa árdua. Pegue agora um caderno, misture tudo o que eu escrevi, apostos e adjetivos extras a gosto, pitadas de Chaves e momentos nostálgicos anos 80, mais um pouco do seu riquíssimo conhecimento de mundo e vomite isso tudo pra cima de alguém depois da quarta cerveja, pronto, você agora tem a verdadeira conversa inteligente de boteco. Aprecie com moderação, por favor.

domingo, 19 de agosto de 2007

Chico Buarque Não Morreu


Passaram-se 30 anos da morte de Elvis Presley, no último dia 16. Após 2 bilhões de discos vendidos, o rei do rock e do rebolation transformou-se no artista com a maior geração de lucro pós-morte de toda história do show business. O fenômeno do "mito" após o sepultamento de algum artista não é exclusivo a Elvis. Os Beatles, The Doors, Queen e, mais recentemente, Nirvana também deixaram no plano terrestre cifras milionárias de rendimentos de suas obras, canonizadas por fãs saudosos ou, até mesmo, que só chegam a conhecer os artistas após o fim de suas carreiras.
No Brasil, a história se repete: Raul Seixas ainda é lembrado em cada pedido de bar, Cazuza e Renato Russo, o primeiro emo do país, continuam vendendo muito, mesmo depois de suas mortes. Assim também é a regra na MPB, Chico Buarque de Holanda é sempre apontado por críticos metidos e artistas bestas como um dos melhores cantores da atualidade, mesmo após sua morte. Mas, esperem aí: Chico não morreu! Não mesmo. O sexagenário carioca ainda desfila nas passarelas cults de Copacabana com a mesma imponência de seu auge tropicalista, porém, se Chico tivesse morrido no início da década de 80, sua obra musical (exclusivamente) não sofreria nenhuma interferência.
A contribuição musical factível do cantor morreu há 20 anos, mas seu fantasma ainda paira no imaginário da crítica brasileira.
É tarefa fácil a qualquer apreciador de boa música lembrar de uma penca de hits que marcaram época, obras do artista carioca. Sob uma rápida consulta à memória (leia-se Google), cito aqui alguns de seus maiores sucessos, assim como a data de seu lançamento original:
"A Banda", lançada no festival da record de 1966; "Roda Viva", de 1968; "Construção", "Cotidiano" e "Valsinha", de 1971; "O que será" e "Mulheres de Atenas", de 1976; as trilhas sonoras "Saltimbancos", 1977, e "Ópera do Malandro, 1979; "Cálice" e "Apesar de Você", de 1978. Aqui jaz um cantor. E nasce o mito.
Ná década de 80, Chico reconhecidamente entrou numa espécia de depressão pós ditadura. A ausência da censura, responsável por exigir do compositor uma habilidade lingüística extra, parece ter feito com que Chico acomodasse e se tornasse uma espécie de primeiro músico da história com aposentadoria garantida: a criatividade da produção parou, mas os rendimentos ainda chegam no final do mês, acompanhados dos louros de um suceso virtual. O músico Chico, de hoje, sobrevive às custas do velho Chico do passado.
De 1990 até 2007, foram 9 trabalhos lançados. Com 3 discos de inéditas em 17 anos: "Paratodos", "As Cidades" e "Carioca". Totalmente inexpressivos. A turnê de seu último lançamento, "Carioca", de 2006, conta com uma mega produção e percorre o país todo, atraindo adorades e simpatizantes a servir de pano de fundo e coro gratuito para a mais "nova" produção de Chico, lançada em 2007: "Carioca, Ao Vivo". Típico: é a roda viva da releitura viciosa. À propósito, você saberia cantar alguma canção desse badalado disco, Carioca, imposto pela crítica como mais uma obra prima de Chico?





quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ignorancia.com ( A Involução do E-Punk)


D.I.Y. (Do It Yourself): Faça Você Mesmo. A sigla traduz o principal lema das bandeiras daqueles que, por muitas vezes, as queimam por hobby: O Movimento Punk. Niilismo, subversão, agressão visual. Nunca o mantra anárquico fez tão pouco sentido como agora.
A Revolução Punk, que como manifestação cultural cultuou e enterrou bandas como Ramones e Sex Pistols, colhe agora mediante às telas de computadores os frutos de sua pobreza intelectual.
O D.I.Y. é levado à risca e despeja na internet, sem o menor pudor, uma infinidade de informações tão vagas quanto inóquas em troca de alguns scraps de fama. Orkut, YouTube, MySpace, Wikipedia, Blogs, a tão ovacionada revolução digital escancara o defeito mais latente de quando os profissionais são substituídos por curiosos aparecidos: informação burra.
O telespectador virou programador de TV no YouTube. O homem- panfleto virou publicitário no MySpace. Historiadores, biógrafos, geólogos deram lugar à uma penca de internautas que brincam de consultores culturais e confundem o mundo na Wikipedia, a "enciclopédia digital". O único ensinamento dessa coleção de pérolas e gafes elefantescas é que quando se trata de informação e cultura, o mínimo de profissionalismo e respeito ao leitor é necessário. E não confunda isso como uma pregação ao diploma universitário, mas somente uma necessidade em acreditar no que se lê, sem precisar verificar no Google 3 ou 4 vezes antes de dar credibilidade à informação.
Uma transa entre Nelson Rubens e Sonião Abraão seria uma catástrofe que faria a bomba de Hiroshima parecer uma tarde ensolarada em Honolulu. Porém, a improvável cria já fora batizada: Orkut Buyukkokten (na foto acima). A invenção desse programador da Google apresenta no Brasil uma influência diária nos modos e costumes de milhares de pessoas. Detalhes íntimos da vida alheia são descobertos em alguns cliques. Parece que o número de voyeurs era bem maior do que se imaginava.
Seu impacto cultural só será dimensionado daqui a algum tempo. E, de início, não está cheirando bem. Será que é realmente inofensivo uma exposição da vida de pessoas completamente não preparadas para isso? Transformar em reality show a navegação de internautas, em sua grande parte ainda crianças, não interfere em nada em seu desenvolvimento?
A impressão que dá é que na internet a vida não é real. É um universo paralelo onde o faz-de-conta vira opção. Você pode fazer o que quiser, até mesmo, se passar por outra pessoa. É um teatro da vida real que transforma a platéia em personagens e diretores. O problema é que, na maioria das vezes, você acaba fazendo papel de bobo. A "anarquia digital", que ignora toda forma de poder, transforma em ignorantes aqueles que se sentiam ignorados .

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O Jogo Sujo de Lost

O maior mistério da série mais americana e mais popular da atualidade não é quem são os "outros". Não é o passado obscuro e interligado dos sobreviventes do desastre com o vôo 815 da Oceanic Airlines que despedaçou-se na ilha. E muito menos quem comanda a "Fundação Hanso" ou quem está por trás do "Projeto Dharma".
O grande segredo de Lost é conseguir tanta popularidade e, conseqüente retorno milionário, com uma combinação fracassada: história piegas contada por um amontoado de atores medíocres, um roteiro cíclico que dá voltas e voltas sem sair do lugar e incontáveis fatos fundamentais para o entendimento da trama simplesmente escondidos de seus telespectadores.
A série mudou a maneira de como uma pessoa assiste TV. A experiência de Lost começa exatamente quando a transmissão de um episódio termina. Fóruns, comunidades e discussões tão intermináveis quanto irrelevantes tentam desvendar os mistérios meticulosamente programado por seus criadores para gerarem exatamente isso: um faniquito de curiosidade capaz de enlouquecer muitos fãs.
Todo o processo de descoberta interpretativa de Lost se assemelha muito com o que é usual para jogos de vídeo-game. É uma "pseudo-interatividade" que dá "um grau" em quem está do outro lado da tela. Assim como em games, quanto mais você avança nas temporadas, mais você descobre sobre seus personagens. Mais informações adquire, a fim de solucionar a penca de segredos forçados e impostos pelos produtores.
O acidente que serve de ponto de partida da história é a queda de um avião comercial lotado de passageiros em uma ilha qualquer do oceano pacífico. Muito provavelmente, foi o desastre desse porte com mais sobreviventes da história da aviação civil: inicialmente eram 48 personagens da parte central e 23 da traseira do avião. Porém, essa conta aumenta de acordo com o Ibope da série.
Um artifício constantemente usado pelos roteiristas é o uso de "flashbacks" que contam o antepassado dos personagens, horas, dias e até anos antes do acidente. "Misteriosamente", boa parte dessas histórias se cruzam, abrindo espaço para polêmicas teorias, que quase sempre apontam para defeitos ou traumas da vida de cada um. Um artifício clichê, por um motivo clichê, em uma história clichê.
Esse manuseio com o intelecto dos telespectadores soa mais apelativo a cada episódio. A impressão que dá é que a única locação de Lost (uma ilha no meio do nada) é o lugar mais misterioso do planeta, e que será preciso mais de uma vida para os heróis desvendarem todos eles. É muito mistério para pouca história.
Brincar nesse jogo movido a trapaças e esconde-esconde com o público pode até ser divertido. A questão é ter a certeza de que é você quem está no controle. De que é a audiência que joga com Lost, e não Lost que joga com a audiência. Até agora, quem está ganhando são os produtores. E muito.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Dinheiro é Tempo

Estender é a palavra-chave atualmente para o cinema e as séries de TV. A fórmula mágica que até então estava escondida nos primeiros episódios de Guerra nas Estrelas parece ter sido descoberta nas masmorras de Senhor dos Anéis. Com objetivos bem traçados, Peter Jackson resolveu gravar simultaneamente os três episódios, dando à trilogia uma coesão dificilmente vista no cinema. Outros sucessos como Homem-Aranha, X-Men e Shrek conseguiram o mesmo feito, tanto na qualidade dos filmes como, e principalmente, na bilheteria. Mas problemas, em parte, também apareceram, tal qual Piratas do Caribe: O Baú da Morte, Matrix: Reloaded e Matrix: Relovutions, e até os novos episódios de Guerra nas Estrelas. Em parte, pois a arrecadação cresceu conforme a qualidade dos filmes caiu. Piratas, por exemplo, foi de 654 milhões para 1,06 milhões, e, pelo jeito, isso é o que interessa. Temos daí o fantasma do prolongamento, ganhamos um filme para perder mais dinheiro e tempo, a história aumenta para dar gás aos produtos, que vão de mochilas a medalhões. Contudo, a criação das legiões de fãs é o processo mais importante. Artifício cujo objetivo é fazer de um filme uma espécie de religião. Assim, é fácil encontrar debates “interessantíssimos” sobre o que está por trás de Matrix ou o absurdo que foi a adaptação do Senhor dos Anéis. Conversas que seriam muito mais produtivas se fossem talvez referentes ao Campeonato Brasileiro.

Agora, nada é mais poderoso nesse caso do que as séries televisivas. CSI – Crime Scene Investigation
resolveu casos suficientes para sete temporadas, 24 Horas já fez Jack Bauer trabalhar por quase uma semana, Lost ainda vai precisar de muitas para ser encontrada, entre outras que têm ou terão muito, para o bem ou para o mal, a contar. Bem como no cinema, esse cenário não era o mesmo há certo tempo atrás. Friends e Arquivo X foram as únicas séries que conseguiram pendurar por uma década, proeza que provavelmente Smallville atingirá sem grandes problemas com o garoto de aço. Antes, comprar as séries originais, ou acompanhar episódio por episódio, podiam ser encaradas raras atividades tão nerds como o cumprimento do senhor Spock. Hoje, baixar a temporada inteira no computador e ostentar as caixas na estante, apesar de não menos nerd, é bem mais comum. Obviamente que isso se deve ao aumento da qualidade na produção e direção dessas séries. Um mercado no qual o produtor Jerry Bruckheimer sabe vender muito bem o seu peixe, tanto na telinha como na telona, nas quais tem o nome creditado em mais de cinqüenta filmagens, incluindo pérolas como Pearl Harbor. Ele acerta e ganha exatamente aí, onde não importa se rodarão CSI ou Armagedom, Arquivo Morto ou Piratas do Caribe, desde que, bem doces, as pipocas sempre irão agradar a criançada.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Duas visões sobre o mesmo ponto

Fotos do lançamento mundial do último ato do bruxinho Harry escrito por J.K. Rowling. "Harry Potter e as Relíquias da Morte" superou a marca dos 11 milhões de exemplares vendidos nas primeiras 24 horas, apenas nos EUA e Inglaterra. Tal fenômeno editorial o coloca como o livro que mais vendeu em tão pouco tempo, em toda a história. Uma legião de "pottermaníacos" se espremeu uns aos outros para poder garantir o seu exemplar. ''A empolgação, a expectativa e a histeria que tomaram conta do país neste final de semana foi um pouco como a primeira visita dos Beatles aos EUA'', afirmou Lisa Holton, presidente da Scholastic, editora da série. Assim como o quarteto de Liverpool, Harry Potter não sai da parada de sucesso.
A escritora britânica J.K.Rowling, em momento mágico, aproveita um belo dia ensolarado para curtir a praia com um amigo. Após o fim da série "Harry Potter", a autora tem futuro incerto na literatura e vai ter que provar não ser escritora de um personagem só. Porém, uma fortuna estimada em 1,2 bilhões de dólares irá amenizar qualquer eventual bloqueio criativo. As cifras milionárias provenientes da historinha do bruxinho renderam à ela o título de mulher mais bem paga da Inglaterra e a primeira escritora bilionária do mundo. Toda essa grana só não conseguirá comprar algo que falta à J. K. Rowling: reconhecimento literário. No mesmo mês do estardalhaço midiático ao lançamento do último Harry Potter, a Flip (Feira Literária de Parati) trouxe, entre inúmeras atrações, o escritor sul-africano J. Coetzee, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2005. Com uma divulgação de porte pequeno, a Flip, assim como J. Coetzee, passaram por aqui sem atrair um décimo dos flashes de atenção que cada passo da britânica recebe. Sabe qual a diferença entre J. Coetzee e J.K. Rowling? 1,2 bilhões de dólares. E quem paga isso é você, seu tonto.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Harry Potter, o Mercador de Letras


Por que alguém lê um livro?

Não é compatível, à essa pergunta, uma resposta unânime. Os motivos são os mais variados: indicação de alguém; identificação com o tema ou autor; pesquisa por informações e tantos outros. O ponto em comum de todos os diferentes motivos que levam uma pessoa a ler um livro é a sensação de que, após o feito completo, você será uma pessoa melhor, ao menos em algum aspecto.

Por que alguém lê "Harry Potter"?

325 milhões de pessoas ao redor do mundo já o fizeram. E tiveram seus motivos. Dentre eles, faço uma ressalva às razões profissionais (críticos, jornalistas e outros) ou uma procura de contextualização cultural, a fim de saber o porquê de tanto alarde a um livro sobre um bruxinho. De resto, não sobra muito. O que leva milhares de crianças e adultos a se enfileirarem diante das livrarias à espera do último episódio da série vai totalmente de encontro ao prazer que uma boa literatura pode proporcionar. Vestir uma capa roxa em meio a um frenesi curioso em descobrir o final do livro, em ser o primeiro a saber se o bruxinho vai ou não morrer, em se tornar o único da turma a possuir o último episódio lançado, combina muito mais com eventos midiáticos de massa, arquitetados por estratégias avassaladoras de marketing, do que com literatura. Essas pessoas lêem "Harry Potter" para se sentirem bem diante das outras. Especialmente os mais novos (público alvo da edição), que lêem para não se sentir deslocados de seu grupo de amigos.
É obvio que é agradável ver adolescentes interessados em leitura ao invés de jogos de computador, e um grupo de garotos em volta de uma livraria é bem mais promissor que um ao redor de uma lan-house. O que incomoda é uma super-valorização totalmente incompatível a mais um produto da indústria do consumismo: A série "Harry Potter" não pode ter status maior do que um Tamagoshi.
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A trama é simplória demais, não há como ver um filme sem rir: Um herói infalível, representante legítimo do Bem, enfrenta criaturas feias e malvadas. O bruxinho sempre ganha. Harry não sofre desvios de personalidade em meio a uma narração previsível. Torna-se uma espécie de anti-herói da cultura, moldado em um personagem raso, linear, plano. O típico ídolo juvenil que poderia salvar o planeta em qualquer sessão da tarde. O ambiente sombrio (destacado na versão cinematográfica do excelente Alejandro González Inãrritu) criado por Rowling, que nos remete levemente à estética literária de Edgar Allan Poe, talvez seja o ponto forte da série. Mas é apenas um sorriso em meio a um terremoto. Talvez isso não salte aos olhos de quem encontra-se momentaneamente cego pelo vício do consumo, no caso, manifestado em forma de livro. O importante é, no final da semana, olhar para o vizinho e dizer: "Eu já li", "Eu sei o que acontece no final". Hoje, ler Harry Potter está na moda, assim como usar ombreiras esteve nos anos 80. Só resta saber se um dia os fãs do bruxinho também irão se envergonhar disso.