-Deite-se. Quero lhe contar uma história.
-Hum... que gostoso... História de Amor?
-Não... Amor não... De ódio mesmo.
-Mas não são a mesma coisa? – cobrindo-se com um lençol vagabundo.
-Depende da perspectiva e das intenções; Você sempre conjuga o Amar ao Odiar?
-risos - Não não... Estava só te testando...
-Ótimo. – acende um carlton red-Tudo começa há um ano e meio, mais ou menos... Eu era um cara, aparentemente, feliz: um bom emprego, um bom carro, um bom apartamento, um bom cachorro que abanava o rabinho quando chegava em casa, umas plantinhas verdinhas também boas, que cresciam conforme eu regava, enfim, tinha uma vida boa.
-Ai Alberto... Seu cinismo às vezes me assusta...
-Eu parecia aqueles caras que já acordam penteados, põe seu roupão e iniciam o roteiro de um comercial de margarina. Todos os dias, sob aquele solzinho matinal irritante– completa o copo de uísque - Chegou um dia que simplesmente me cansei de tudo... Da minha vida, da mulher, do meu carro, até mesmo daquelas plantinhas que ficavam enchendo o saco, crescendo sem parar...
-Ah... Eu adoro plantinhas! – leviana - Mas e o cachorro Alberto? Dele você não se cansou?
-Não... O Birita é inquestionável... Continuando, chegou um dia que eu falei p mim mesmo: “Chega”. Não quero mais ser um cara do tipo “margarina”. Quero ser um cara mais “campari”... Entende?
-Não – risos
- dá mais um gole no copo - Queria chegar numa festa cheia de gente “cool”, com aquelas musiquinhas “cool”, e que quando passa o garçom, você levanta o dedinho assim e... BAM! – dá um tapa na bunda de Brenda – Aparece, do nada, um drinquezinho cool!! Sabe do que eu to falando??Queria pintar todo mundo de vermelho... Queria ser um cara mais vermelho. Sabe?
-Há há há... Não! Não mesmo! Nunca ouvi nada tão absurdo...
-Ahhh... –risos irônicos – Francamente... Você, com certeza, já deve ter ouvido absurdos maiores...
-Por que você fala assim de mim?
-Porque você não passa de uma puta.
Brenda olha o relógio: faltavam ainda 15 minutos. Dá uma forte tragada no cigarro e despeja todo o seu nojo sobre aquele amontoado de frustração que vestia um terno cinza-chão. – Pelo menos, de mim nunca ninguém se queixou ta?
-HÁ HÁ HÁ... Duvido...
-Não mesmo. Nunca ninguém me pediu o dinheiro de volta.
Alberto era um homem bonito. Com seus 28 anos poderia facilmente arrumar uma nova mulher para acompanhá-lo nas inúmeras festinhas de falsidade com o pessoal da empresa. Porém, há um ano e meio, mais ou menos, ele vinha se consumindo a cada dia. Estava cada vez pior, mais feio, mais irritado, “mais cinza-chão”.
-Também querida, seus 50 reais não fazem falta a ninguém que eu conheça. Encare como uma esmola...
- Olha pra mim seu filho da puta! – põe-se de pé na cama de casal em forma de coração, completamente nua – Olha bem pra mim e me diz que você não me quer. Que não me acha gostosa. Que não goza toda vez que trepamos nessa bosta de motel. – com a mão direita em riste, arma um tapa na cara de Alberto, que a segura grosseiramente.
- Encosta esse dedo em mim que te arrebento no meio, sua vagabunda.
Brenda despe-se mais uma vez e cai em prantos. O que deixa seu corpo não é mais o Dior de 2 mil dólares que ganhou de Alberto para acompanha-lo em um jantar com seus sócios, mas sim, o que a deixava agora, era toda sua alma, seus quase um ano e meio de dedicação àquele homem cinza-chão.
-Levanta essa cara... Eu tenho que ir embora.
-Brenda ergue seu rosto marcado pela maquiagem borrada e cospe pra fora tudo que batia em seu peito: -Eu te amo seu filho da puta! – choro desesperado - Eu te amo mais que tudo desse mundo! – choro constante – Eu te amo!
-Levanta. – joga duas notas de 50 na cama.
-Por que você faz isso comigo – aos prantos – Por quê?
-A gente não tem relação nenhuma... Você sabe disso.
-gritos – Por que você não arruma então uma estagiária gostosinha pra namorar!! Por que você ainda me procura toda semana? Você depende de dinheiro pra ter sexo... é isso?? Seu covarde inseguro. Canalha.
-Não – lança seu pior olhar – Eu não te pago para transar, não preciso disso. Eu te pago para que você vá embora depois da transa.
Ele pega o celular e liga pro taxista que buscava Brenda todas as sextas, há um ano e meio, mais ou menos. Antes de sair do quarto, volta-se a ela:
-Pega seu dinheiro. Sexta que vem eu quero você linda.
Brenda guarda os 100 reais na bolsa. Vira o que sobrou da garrafa de Johnnie Walker e enxuga as lágrimas pretas de tinta com o lençol. Ainda nua, cospe no espelho a imagem que a refletia. Recompõe-se. Veste seu vestido vermelho e liga para Bruno, um executivo aposentado que se apaixonou perdidamente por ela durante um programa, há um ano e meio, mais ou menos.
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2 comentários:
esse amor tá vermelho demais, transborda muito. essa cara aí tá precisando é de um Metropolitan, rsrs.
vc traiu a sua co-autora. ela me disse que não gostou mto disso não, rsrs.
rojo cómo la cúrcuma... pero sin contenido.
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