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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Tapa na Cara da Hipocrisia Social

"Às vezes eu me pergunto: Quantas crianças precisam morrer para um playboy fumar um baseado?"

Essa conta ainda não foi feita. O bando de sociólogos pseudo-cults está muito mais ocupado em inflar o seu próprio ego do que encarar a realidade. Porém, o produto final dessa matemática macabra está por toda parte, escancarada em qualquer estatística que acostumamos a ignorar. O assunto parece clichê, piegas ou até mesmo hipócrita. O filme que relata isso não (uma das cenas mostrada no vídeo acima).

"Tropa de Elite", com direção e produção de José Padilhe, o mesmo do documentário Ônibus 174, apresenta à elite o policial do B.O.P.E., Capitão Nascimento, autor da frase que inicia esse texto e interpretado impecavelmente por Wágner Moura. Além da parte falida e corrupta da polícia militar carioca e o poder que o tráfico exerce na cidade - temas já abordados em outros filmes, como Cidade de Deus - a produção, prevista para entrar em cartaz ainda esse ano (mas que teve uma cópia divulgada clandestinamente na internet), inova e, ao mesmo tempo, choca uma sociedade hipócrita que, sarcasticamente, dá aval ao motor que sustenta a indústria do tráfico: Você, maconheiro. Você, que acha o maior barato fumar "unzinho" em suas rodinhas pseudo-anárquicas. Você, que se reúne a seus cúmplices para queimar a bandeira da opressão, da elite, ou da aversão ao sistema enquanto fuma o destino de milhares de crianças com dias limitados à bala de fuzil na cabeça. É você, seu maconheiro, que abastece o bolso de traficantes em troca de meia hora de "diversão". Eu tenho nojo disso. Eu tenho nojo de você.

Uma pessoa que usa drogas não tem o direito de reclamar do sistema. Não tem o direito de botar a culpa dos males da sociedade na violência, nem nos políticos. Uma pessoa que compra maconha e pó da mão de bandido, também é bandido. Mas, nesse mundo que sempre há de ter forças para nos surpreender, em mais uma de suas irônicas inversões de valores, o que vemos é uma adoração a esse tipo de gente, seja na mídia (adotando ícones como Marcelo D2 e seu Planet Hemp), nas ruas, nos morros e, para mim, a parte mais irônica dessa história: Nas Universidades.

O local que era para ser o centro da formação intelectual dos jovens, vira a casaca ao transformar-se em um culto à bestialidade. O cara descolado da turma é o que traz a droga. "O foda da faculdade, é que à primeira vista os estudantes são caras legais pra caralho. É um lugar cheio de mocinhas lindas e com boas intenções". O que vemos nos indignamentes denominados Centros de Ciências Humanas é o lixo cultural que contaminou os valores da sociedade. E esse esgoto da modinha em ser rebelde fede. E muito. Como Você, maconheiro, tem estômago para discutir consciência social e cultura depois de enrolar um baseado? Você não se sente parte do crime? Você não percebe que é usado e incentivado pelos traficantes midiáticos e marqueteiros a se transformar em uma mula? Se ainda lhe restou algum neurônio, maconheiro, pense.

...

Você e seus amigos se sentem bem à mesa de um bar. Trocando idéias e tomando cerveja, horas passam com um rapidez agradável. As histórias que ocorrem são hilárias e relembrar as tais com outros amigos, tomando outras cervejas, fazem você se sentir melhor ainda. Eu sei, eu também sou assim. Tomar umas com os amigos é demais. E, afinal de contas, se você souber se controlar, a cerveja nem faz tanto mal à saúde. Não exagerando na dose, evitando não beber antes de pegar o carro e com outros pequenos cuidados, você e seus amigos podem passar anos nessa bohemia saudável.

Agora, vamos viajar um pouco:

Imagine se surgissem reportagens denunciando uma cervejaria - tomemos como exemplo fictício a Skol - que usa, como trabalhadores, jovens e crianças de até 10 anos de idade. Nessa fábrica, os presidentes da empresa estão milionários, enquanto seus operários juvenis são arrancados de suas famílias, deixando mães aos prantos, e obrigados a trabalharem dia e noite em troca de trocados e pares de tênis importados.

A rotina é cruel, todos os empregados perderam a identidade, nunca pisaram na escola e só se comunicam por um dialeto exclusivo do ambiente. Quem passa na frente dessa cervejaria-fictícia para comprar sua cervejinha não enxerga seus bastidores. Porém, a reportagem é avassaladora. Escancara a violência que rege a organização. Em uma cena, obtida com uma câmera escondida também fictícia, pode-se ver algo chocante: um operário da Skol de 10 anos, ao derrubar por acidente uma garrafa que seria abastecida, é espancado pelos superiores. O sangue do menino se espalha entre a cerveja que escorre no chão. Seu colega, de idade semelhante, que não relatou o incidente ao chefe, sofre pena mais grave: tem sua cabeça estourada por uma espingarda calibre 12. Após alguns funcionários retirarem os dois pequenos corpos, já desfigurados, o trabalho recomeça na fábrica.

Diga com sinceridade: após essa reportagem fictícia, você se sentiria confortável para tomar uma Skol com seus amigos? Você iria achar legal o cara que leva umas latinhas da cerveja na mochila e distribui para os colegas da faculdade? Você não se sentiria culpado em ajudar a financiar tudo isso? Não iria lembrar da imagem com os dois garotos ensangüentados a cada gole de cerveja que tomasse?

Claro que isso é só ficção. Não tem nada a ver com a nossa realidade. É apenas um mundo imaginário que se parece com o nosso. Com problemas fictícios que se parecem com os nossos.

É impossível mudar o passado. Somos obrigados a conviver com o presente. Mas o futuro: esse a gente pode mudar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Outono é sempre igual: a Sandy estraga no final



Ouça essa música. Porém, pause o ponto 1:20m do vídeo. Aqui está a exata fronteira entre o Cult e o Brega; entre o Indie e o Pop; o Orgulho e o Preconceito; a Melodia e a Gritaria; a Calma e o "Vamo Pulá"; Chico Buarque e Chitãozinho; Clarice Lispector e J.K. Rowling; Franjinha e Mullets; Barba e Espinhas. E sabe qual a diferença real entre esses mesmos 80 segundos cantados por Marcelo Camelo (no Acústico Mtv, em "Quatro Estações) e o restante, gritado por Sandy? Você, platéia. A música (e isso é que devia importar) é exatamente a mesma.

Se Los Hermanos ou qualquer outro projeto barbudo tivesse lançado esses mesmos 1 minuto e 20 segundos em algum disco que já sai da gravadora com o selo CULT pregado à capa, toda a breguice que atrai tomates à dupla sertanejo-pop-teen daria lugar a sorrisos blasés pré-fabricados de uma penca de fãs que não aprendeu senso crítico na escola, além de palmas de uma crítica preguiçosa, que acha mais fácil copiar opiniões do que pensar.
Camelo, ou a sua interpretação, impôs na música todo o arzinho superior temperado à velha bossa-nova que dá o tom de sua obra e despenteia suas viúvas. Contudo, Sandy, a Virgem, não deixa barato. Um grito estridente deixa bem claro que estamos em terreno estranho, bem estranho, esquartejando qualquer resquício de saudade que o fim da dupla poderia causar.

Musicalmente falando, a versão é sofrível. A "química" entre os dois simplesmente não existe. A impressão que dá é que são duas canções em uma só: a diferença entre uma interpretação e outra é gritante, literalmente. A primeira parte ficou com o jeitão Los Hermanos, apesar da música ser de Sandy: letras existencialistas e, por vezes, com temas bucólicos (vide "o vento" ou "primavera"), pieguices ("o calor aquece o meu coração") e esquisitisse ("felicidade, uma quimera/viver sonhando, quem me dera"). Elementos que não saem da receita de qualquer canção de amor. Seja ele - o amor - ao próximo, a si mesmo ou à grana que um acústico Mtv às vésperas da "aposentadoria" das duas bandas pode render. Só falta Sandy e Junior cantarem "O Último Romance" para tirarmos a prova real e sabermos se o saco do qual saem essas duas farinhas é o mesmo.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Compêndio do Besteirol Instantâneo ou Escrito das Pseudo-Dúvidas Retóricas

Sentados e bebendo no boteco, alguém diz: “então, vocês viram aquela parada sobre a CPMF, eu vi que...” eis que um grito desesperado cruza a mesa “Não! Pára! Eu tô no bar! Num vim aqui pra conversas inteligentes!”. E logo complementa com um ar tão sapiente que fede a Sócrates, “aqui é lugar pra falar besteira”. É! Depois desses argumentos como discutir? Sempre há como discutir. O que é considerada uma conversa inteligente? Seria um fato desconhecido pelos demais, pretenso acontecimento exigente de um neurônio ou dois para ser entendido? Seria algo que não um clássico de um minuto e vinte do YouTube? Ou talvez, pra variar, a falta de equiparação “intelectual”, também representada pelo nome “inteligência”? Quando digo isso eu estou fazendo menção não à inteligência cognitiva, aquela responsável pela capacidade de raciocinar, fazer abstrações etc., mas sim à impressora de sensações, de que algo acima de nós está sendo proferido, um momento que nos parece colossal, assustador, distante. O que eu classifico como inteligência aqui não está no patamar do absoluto, pois iremos encontrá-la confortável e acomodada na superfície do relativo. Não é a esperteza de outrem, e sim a falta da nossa, logo, uma inteligência hipotética, que, doravante, será a nossa companheira nesse texto. Destarte, eu pondero, se o bar não é lugar para conversas inteligentes, se é um recinto que preza pela incondicional e inexpressiva necessidade de respirar, então, eu me pergunto, onde encontro o dito lugar? Já que ele não é o boteco, onde fica? Eu tento de forma vã visualizar esse antro cultural. Estaria ele entre o horário do almoço e o cochilo, ou então na hora do trabalho? Na faculdade? – forcei agora, eu admito, talvez seja a ansiedade tomando conta de mim, o desespero de descobrir como alcançar o limbo das idéias, dar uma passada lá, um ambiente no qual as exposições das minhas opiniões medíocres possam ser feitas em paz, quem sabe até exista gente morando lá, e elas não superestimem minhas considerações, nem subestimem elas mesmas.

Contudo, num segundo pensamento, será que seria interessante visitar uma vizinhança assim? Começo a ver que o lucro seria pouco, para mim, e para Maria Rita, Arnaldo Antunes, Ney Matogrosso, até mesmo os Mutantes. O que seria deles se não fossem as rodas de botecos não pensantes? E as bandas universitárias? Um genocídio de fato. O que faríamos se não pudéssemos negar o vangloriado e apoiar o podre, de que forma eu poderia dizer que Clarice Lispector é um lixo, e abraçar com tapas nas costas e argumentos levianos, mas pernosticamente embasados, Paulo Coelho. Também pode-se acusá-lo, sem ter a mínima noção do porquê, essa é um pouco menos criativa, mas, nessa altura, criatividade é usar boina. Teria eu que deixar aquele meu óculos de armação preta grossa e quadrada na gaveta? E todos aqueles filmes que eu assisti com muito sacrifício, xingando cada minuto passado para no instante seguinte elogiar cada movimento de câmera, cada cena subjetiva, conferida a rigor no Google, pobre Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Agora, eu não estou aqui também pra tirar um peso das suas costas, leitor, seu coitado, que assistiu Cães de Aluguel e riu do começo ao fim pelos motivos errados, patético. Na verdade esses pseudos duelos intelectuais são quase em sua totalidade engraçados, não há como não deixar de, pelo menos, rir por dentro daqueles comentários totalmente fora de contexto, geralmente longos e pedantes, cujo propósito é manter uma posição vazia e extensa. Ah, o subjetivo! Ah, arte! O inútil pelo inútil. Conciliar o bom gosto ao novo e ao mesmo tempo mostrar-se popular parece difícil até “Encontros e Despedidas” na abertura da novela das oito. Behind Blue Eyes, duas versões no PC, uma na rua, The Who! Selecionar o trigo dentro do joio é uma tarefa árdua. Pegue agora um caderno, misture tudo o que eu escrevi, apostos e adjetivos extras a gosto, pitadas de Chaves e momentos nostálgicos anos 80, mais um pouco do seu riquíssimo conhecimento de mundo e vomite isso tudo pra cima de alguém depois da quarta cerveja, pronto, você agora tem a verdadeira conversa inteligente de boteco. Aprecie com moderação, por favor.

domingo, 19 de agosto de 2007

Chico Buarque Não Morreu


Passaram-se 30 anos da morte de Elvis Presley, no último dia 16. Após 2 bilhões de discos vendidos, o rei do rock e do rebolation transformou-se no artista com a maior geração de lucro pós-morte de toda história do show business. O fenômeno do "mito" após o sepultamento de algum artista não é exclusivo a Elvis. Os Beatles, The Doors, Queen e, mais recentemente, Nirvana também deixaram no plano terrestre cifras milionárias de rendimentos de suas obras, canonizadas por fãs saudosos ou, até mesmo, que só chegam a conhecer os artistas após o fim de suas carreiras.
No Brasil, a história se repete: Raul Seixas ainda é lembrado em cada pedido de bar, Cazuza e Renato Russo, o primeiro emo do país, continuam vendendo muito, mesmo depois de suas mortes. Assim também é a regra na MPB, Chico Buarque de Holanda é sempre apontado por críticos metidos e artistas bestas como um dos melhores cantores da atualidade, mesmo após sua morte. Mas, esperem aí: Chico não morreu! Não mesmo. O sexagenário carioca ainda desfila nas passarelas cults de Copacabana com a mesma imponência de seu auge tropicalista, porém, se Chico tivesse morrido no início da década de 80, sua obra musical (exclusivamente) não sofreria nenhuma interferência.
A contribuição musical factível do cantor morreu há 20 anos, mas seu fantasma ainda paira no imaginário da crítica brasileira.
É tarefa fácil a qualquer apreciador de boa música lembrar de uma penca de hits que marcaram época, obras do artista carioca. Sob uma rápida consulta à memória (leia-se Google), cito aqui alguns de seus maiores sucessos, assim como a data de seu lançamento original:
"A Banda", lançada no festival da record de 1966; "Roda Viva", de 1968; "Construção", "Cotidiano" e "Valsinha", de 1971; "O que será" e "Mulheres de Atenas", de 1976; as trilhas sonoras "Saltimbancos", 1977, e "Ópera do Malandro, 1979; "Cálice" e "Apesar de Você", de 1978. Aqui jaz um cantor. E nasce o mito.
Ná década de 80, Chico reconhecidamente entrou numa espécia de depressão pós ditadura. A ausência da censura, responsável por exigir do compositor uma habilidade lingüística extra, parece ter feito com que Chico acomodasse e se tornasse uma espécie de primeiro músico da história com aposentadoria garantida: a criatividade da produção parou, mas os rendimentos ainda chegam no final do mês, acompanhados dos louros de um suceso virtual. O músico Chico, de hoje, sobrevive às custas do velho Chico do passado.
De 1990 até 2007, foram 9 trabalhos lançados. Com 3 discos de inéditas em 17 anos: "Paratodos", "As Cidades" e "Carioca". Totalmente inexpressivos. A turnê de seu último lançamento, "Carioca", de 2006, conta com uma mega produção e percorre o país todo, atraindo adorades e simpatizantes a servir de pano de fundo e coro gratuito para a mais "nova" produção de Chico, lançada em 2007: "Carioca, Ao Vivo". Típico: é a roda viva da releitura viciosa. À propósito, você saberia cantar alguma canção desse badalado disco, Carioca, imposto pela crítica como mais uma obra prima de Chico?





quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ignorancia.com ( A Involução do E-Punk)


D.I.Y. (Do It Yourself): Faça Você Mesmo. A sigla traduz o principal lema das bandeiras daqueles que, por muitas vezes, as queimam por hobby: O Movimento Punk. Niilismo, subversão, agressão visual. Nunca o mantra anárquico fez tão pouco sentido como agora.
A Revolução Punk, que como manifestação cultural cultuou e enterrou bandas como Ramones e Sex Pistols, colhe agora mediante às telas de computadores os frutos de sua pobreza intelectual.
O D.I.Y. é levado à risca e despeja na internet, sem o menor pudor, uma infinidade de informações tão vagas quanto inóquas em troca de alguns scraps de fama. Orkut, YouTube, MySpace, Wikipedia, Blogs, a tão ovacionada revolução digital escancara o defeito mais latente de quando os profissionais são substituídos por curiosos aparecidos: informação burra.
O telespectador virou programador de TV no YouTube. O homem- panfleto virou publicitário no MySpace. Historiadores, biógrafos, geólogos deram lugar à uma penca de internautas que brincam de consultores culturais e confundem o mundo na Wikipedia, a "enciclopédia digital". O único ensinamento dessa coleção de pérolas e gafes elefantescas é que quando se trata de informação e cultura, o mínimo de profissionalismo e respeito ao leitor é necessário. E não confunda isso como uma pregação ao diploma universitário, mas somente uma necessidade em acreditar no que se lê, sem precisar verificar no Google 3 ou 4 vezes antes de dar credibilidade à informação.
Uma transa entre Nelson Rubens e Sonião Abraão seria uma catástrofe que faria a bomba de Hiroshima parecer uma tarde ensolarada em Honolulu. Porém, a improvável cria já fora batizada: Orkut Buyukkokten (na foto acima). A invenção desse programador da Google apresenta no Brasil uma influência diária nos modos e costumes de milhares de pessoas. Detalhes íntimos da vida alheia são descobertos em alguns cliques. Parece que o número de voyeurs era bem maior do que se imaginava.
Seu impacto cultural só será dimensionado daqui a algum tempo. E, de início, não está cheirando bem. Será que é realmente inofensivo uma exposição da vida de pessoas completamente não preparadas para isso? Transformar em reality show a navegação de internautas, em sua grande parte ainda crianças, não interfere em nada em seu desenvolvimento?
A impressão que dá é que na internet a vida não é real. É um universo paralelo onde o faz-de-conta vira opção. Você pode fazer o que quiser, até mesmo, se passar por outra pessoa. É um teatro da vida real que transforma a platéia em personagens e diretores. O problema é que, na maioria das vezes, você acaba fazendo papel de bobo. A "anarquia digital", que ignora toda forma de poder, transforma em ignorantes aqueles que se sentiam ignorados .

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O Jogo Sujo de Lost

O maior mistério da série mais americana e mais popular da atualidade não é quem são os "outros". Não é o passado obscuro e interligado dos sobreviventes do desastre com o vôo 815 da Oceanic Airlines que despedaçou-se na ilha. E muito menos quem comanda a "Fundação Hanso" ou quem está por trás do "Projeto Dharma".
O grande segredo de Lost é conseguir tanta popularidade e, conseqüente retorno milionário, com uma combinação fracassada: história piegas contada por um amontoado de atores medíocres, um roteiro cíclico que dá voltas e voltas sem sair do lugar e incontáveis fatos fundamentais para o entendimento da trama simplesmente escondidos de seus telespectadores.
A série mudou a maneira de como uma pessoa assiste TV. A experiência de Lost começa exatamente quando a transmissão de um episódio termina. Fóruns, comunidades e discussões tão intermináveis quanto irrelevantes tentam desvendar os mistérios meticulosamente programado por seus criadores para gerarem exatamente isso: um faniquito de curiosidade capaz de enlouquecer muitos fãs.
Todo o processo de descoberta interpretativa de Lost se assemelha muito com o que é usual para jogos de vídeo-game. É uma "pseudo-interatividade" que dá "um grau" em quem está do outro lado da tela. Assim como em games, quanto mais você avança nas temporadas, mais você descobre sobre seus personagens. Mais informações adquire, a fim de solucionar a penca de segredos forçados e impostos pelos produtores.
O acidente que serve de ponto de partida da história é a queda de um avião comercial lotado de passageiros em uma ilha qualquer do oceano pacífico. Muito provavelmente, foi o desastre desse porte com mais sobreviventes da história da aviação civil: inicialmente eram 48 personagens da parte central e 23 da traseira do avião. Porém, essa conta aumenta de acordo com o Ibope da série.
Um artifício constantemente usado pelos roteiristas é o uso de "flashbacks" que contam o antepassado dos personagens, horas, dias e até anos antes do acidente. "Misteriosamente", boa parte dessas histórias se cruzam, abrindo espaço para polêmicas teorias, que quase sempre apontam para defeitos ou traumas da vida de cada um. Um artifício clichê, por um motivo clichê, em uma história clichê.
Esse manuseio com o intelecto dos telespectadores soa mais apelativo a cada episódio. A impressão que dá é que a única locação de Lost (uma ilha no meio do nada) é o lugar mais misterioso do planeta, e que será preciso mais de uma vida para os heróis desvendarem todos eles. É muito mistério para pouca história.
Brincar nesse jogo movido a trapaças e esconde-esconde com o público pode até ser divertido. A questão é ter a certeza de que é você quem está no controle. De que é a audiência que joga com Lost, e não Lost que joga com a audiência. Até agora, quem está ganhando são os produtores. E muito.