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terça-feira, 25 de setembro de 2007

Obsessão

A noite caía trôpega ao seu lado. Estavam anoitecendo juntos, ele e a noite, enquanto aquele sambinha barato cantado por um bêbado não saía de sua cabeça. Tentava se livrar de muitos fantasmas, mas estavam todos lá. Olhava para a noite com um ar cínico, quase que estranhando-a, mesmo sabendo ser ela sua mais fiel companheira. Acha isso irônico? Você ainda não viu nada.
"Já não é amor, já não é paixão. O que eu sinto por você é obsessão". Essa frase piegas não desgrudava de sua cabeça. E olha que odiava samba, sempre odiou. Há músicas que, sem a menor razão, simplesmente não saem da cabeça. Mas não era o caso, dessa vez, aquilo tudo fazia sentido.
Ficou pensando sobre o que levou a sentir tamanha incoerência. Àquela altura do campeonato muita coisa já estava perdida. E isso não era surpreendente. Seria a ironia pegando uma peça?
Surpreendente foi sentir a falta de algo nunca antes ausente. Como se lhe tivessem arrancado um braço, sem ao menos ele saber que o braço podia ser arrancado. E não era amor, era obsessão.
A conta é simples: se toda essa história de alma gêmea realmente existe, seria coincidência ela sempre ser encontrada em um raio de 2 km de sua casa?
Não seria o caso de, por ironia do destino, a dele residir na Nicarágua? Não. Nossas Almas Gêmeas sempre nos rodeiam. E isso não fazia sentido algum para ele. Até porque, àquela altura do campeonato, já era tudo obsessão. E muita coisa já havia sido perdida, e o braço não estava mais pregado ao corpo.
Por mais irônico que fosse, ele acreditava em coisas que não lhe faziam sentido. Acreditava em amor, em paixão. Só não botava fé na obsessão. Acreditava até mesmo em alma. Alma existe? A conta era simples, se a alguns pares de séculos atrás, o planeta Terra era habitado por 1 bilhão de pessoas, que hoje já se transformaram em mais de 6 bilhões, de onde vieram essas 5 bilhões de almas extras? Haveria um planeta reservatório de almas? A reencarnação não fazia sentido.
Estava confuso, trôpego. A cada cigarro tudo se tornava mais confuso. E a noite caía ao seu lado.E também era trôpega. E repetitiva. Confuso, trôpego. Fumava um pouco mais do que de costume. Talvez, por estar repetitivo.
Sabia que aquela não podia ser sua alma gêmea. Não porque ela não fosse suficiente boa para ele, mas somente porque não acreditava em alma gêmea. Não acreditava no amor, na paixão. Amar é verbo egoísta. Era tudo obsessão. Quem diz que ama só espera ser satisfeito os desejos próprios, a sua felicidade. Até quando é solidário, o amor é egoísta. O Outro é o espelho que reflete a si mesmo, em forma de outro. Quem ama de verdade ama calado, sozinho.
E ela gostava dele, mesmo dizendo que gostava, mesmo não gostando calada. Ela fingia que o amava, e o amava de verdade ao mesmo tempo. Mas até aquilo tudo fazer sentido para ele, muita coisa já havia sido perdida.
E ele já não acreditava quando ela dizia que amava. Em nem sequer uma letra do que daquela boca saía.
Não porque achava que não fosse sincera, ou que não fosse suficientemente boa para ele. Não o fazia simplesmente por não acreditar no amor, na paixão. Não conjugava mais o amar. Entre o sujeito e o verbo havia uma vírgula. Uma elipse de si mesmo. E usava um narrador onisciente, tentando disfarçar sua obsessão para o que era, reconhecidamente de fato, obsessão. havia se transformado numa terceira pessoa que começava frases com letras minúsculas. Estava confuso demais para tudo aquilo. E trôpego. Já não havia mais EU. Já não era mais amor. Não podia ser. Só fazia sentido se quando fosse verdadeiro, não houvesse dúvida. Mas ele não acreditava em nada daquilo. Ele duvidava de suas dúvidas, ao mesmo tempo que não acreditava mais em suas certezas. Botava em xeque até mesmo sua cara. O resto do braço arrancado não causava-lhe dor. Deixava apenas a lembrança que ali já havia acontecido um braço, que lhe fora arrancado.
Acendeu outro cigarro: seria possível o amor ser o causador de tanta confusão? Seria irônico, mas talvez, àquela altura do campeonato, fosse só obsessão.

16 comentários:

caró disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Cara muito bom o seu texto.
Eu também não acredito em "Alma gêmea", mas no amor véio, nesse sim eu acredito. Pobre o homem que não ama.

Júnior de Paiva / Dish disse...

O amor é tolo como humanos ao crer nele...
penso assim...e não fui fisgado ainda!
rsrsrs
bom texto...
abraço!

Anônimo disse...

nossa.. sensacional, tô até sem palavras..muito bom mesmo..
adorei esse blog, vou voltar mais vezes..
bjinhussss

caró disse...

Muito bom, e é uma pena ser apenas um texto...

.barile disse...

e talvez nem isso seja..

.barile disse...

ah, qto ao ricardo, quem te falou q eu não acredito em alma gêmea? lamento, mas vc não entendeu nada do texto.

caró disse...

Talvez eu tbm não tenha entendido nada do texto.
O Autor e texto, tudo muito complexo...

Ŧóрєrš disse...

Eu também não entendi porque não li ainda.

Ŧóрєrš disse...

Agora sim.

black_panther disse...

eu também não entendi. começar frases com letras minúsculas? como assim?

ficou massa! parece aqueles textos que o marcio renato dava pra gente ler.

Anônimo disse...

tb não entendi nada, mas gostei mesmo assim...auahauahauah

Anônimo disse...

boiei totalmente...

Ŧóрєrš disse...

Ha! Eu entendi melhor ainda depois do Jota...

.barile disse...

isso.. vamo falar da minha vida pessoal agora.. perfeito

caró disse...

hahahahhahaha