Muito acima do peso, foi pro bar, pediu uma porção, bebeu sozinha.
No fim da noite chamou a garota da mesa vizinha, perguntou se um dos dois rapazes que estavam com ela não queria companhia. Esperou a resposta pra sempre naquela triste agonia. Ninguém reparou, porque, apesar do tamanho, parecia que ninguém a via.
Cópia patética de alguma música do Chico? Muito pior, não é mentira.
Eu vivi essa trágica situação ontem. Consegui transformar uma pessoa num ser invisível. A italiana, como ela se apresentara enquanto eu não estava. Chegou até a mesa e disse isso, se um de nós não se interessava por uma italiana. Como a nossa auto-imagem é ardilosa. De vários predicados, ela nos sustenta com aqueles que nos mantém vivos. Mas ao mesmo tempo em que exalta os bons, denúncia dolorosamente os maus. Quando ela disse sua suposta nacionalidade, vendeu pra gente a imagem de Monica Bellucci, só que sabia que estávamos comprando um Materazzi. Sabia mesmo. Por isso só pode se resumir como italiana, nada mais, nada menos. O fato é que torcia para que a nossa concepção da palavra fosse melhor que a concepção que tínhamos dela. A palavra ia vender o corpo. Infelizmente, uma imagem realmente vale mais que mil palavras.
Acho que fomos os únicos ali, além dos garçons, que se deram conta de que ela estava lá. A italiana invisível veio me mostrar como sou cego. Pois, só no fim daquela noite, percebi que ela estava o tempo todo lá. Senti que estava naqueles filmes em que uma cena explica toda a história feito um quebra-cabeça, ela era a peça que faltava. A peça que poderia ter ficado perdida para sempre embaixo do sofá.
Eu nem sequer vi essa mulher pessoalmente, mas construí toda essa imagem dela. Vocês não sabem nada sobre ela, assim como eu. Mas vejo que ela lá de sua mesa chegou até a mim como um espelho. Não gostei do que vi.
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